_O tablete

.:.

Gumercindo odiava desperdícios. Abominava excessos de contenção também.

“Esse povo moderno quer economizar em tudo!” – dizia o quarentão, professor de Matemática que odiava efetuar contas, pode?! “Passaram Séculos destruindo e logo agora na minha geração aparecem com essa onda verde de economizar isso, aquilo... Uma ova!”

Tio Gumer para as alunas mais atiradas, ou Cindinho para a esposa, era assaz[1] resmungão, reclamava de tudo.

“A gente vai ao Shopping e resolve urinar por lá. Até aí tudo certinho, mas na hora de lavar as mãos é canseira! Ficamos apertando aquela torneira prateada linda, caríssima, jogando água em conta-gotas igual a mijada de cabra velho, por seção – é um jato e uma pausa; uma pausa, outro jato.”

No último encontro realizado pelos heroicos torcedores da lendária Torcida Jovem e Organizada dos Esperançosos Tricolores – TORJODET, o grande Cindão, um dos fundadores, desabafou:

– Falta de planejamento é algo seríssimo. Atrapalha a vida de todo mundo. Ontem me convocaram para uma reunião em cima da hora, na bucha! Sem tempo suficiente para ir a minha casa, comi rapidamente no trabalho e segui para o local. A assembleia seria realizada num hotel bonito, requintado...

Ao estacionar o carro, tenho essa mania fisiológica, deu vontade de visitar o toalete do hotel. Entrei. Fui me acostumando com o ambiente. Sentei no vaso e me pus a meditar. Puxei o papel. Ah, amigo! Quando puxei o bendito papel... Caiu em minha mão um tablete de um palmo. Conseguem visualizar? Media um palmo (25 cm) por uma mão chapada (na posição de cortar as unhas, quando você, homem, ou mulher, ou algo que o valha, olha para a manicure e já faz aquela carinha amistosa de vamos fofocar, mulher?). Odeio desperdício, amigos, mas aquilo, aliás, com aquilo eu não limparia nem as remelas dos olhos ao acordar, imaginem o... “Em respeito ao ambiente, dei descarga, lavei as mãos (noutra pia conta-gotas) e saí, sem me enxugar, levando três tabletes no bolso por precaução.”

Crato-CE, 7 de outubro de 2011.

02h17min