Pão de Casa...
Hoje acordei com vontade de pão de casa, pés no chão, lençóis de algodão e colo de mãe.
Encantava-me ver minha mãe preparando o pão. Um ritual de amor e carinho conduzido com maestria por suas mãos. Primeiro colocar o fermento em uma vasilha, fazer uma esponjinha com um pouco de açúcar, leite e trigo, esperar crescer... Enquanto preparava o almoço.
Ficávamos olhando aquele milagre que às vezes quase transbordava para fora da caneca. Uma massinha que parecia ter vida.
O ritual prosseguia na mesa muito limpa. Ovos, açúcar, sal, óleo, mais leite e trigo suficiente para dar ponto na massa.
Um vai e vem sobre a superfície numa magia a dar forma ao que se transformaria em pão... Pão, o corpo. O sopro, o milagre.
Uma gestação em horas, ao alcance dos nossos olhos, meus e de meus irmãos. Pronta a massa, hora de crescer novamente.
Nos dias frios em uma bacia ao sol devidamente coberta com panos de prato alvos como o sal. Em dias quentes numa sombra em cima da mesa ou do fogão.
Umas duas horas depois estava lá a massa, grávida, tão volumosa, no ponto de parir. Acarinhada e manipulada ia aos poucos dando forma aos pães. Um a um, se com tempo, levada ao cilindro, onde tomava ares mais nobres. Eu particularmente, prefiria-os sem passar por essa fase. Gostava dos pães de massa mais porosa.
E eis que iam para encubadora, branquinhos... Deitadinhos lado a lado. Com as sobras da massa, ganhávamos pequenos pãezinhos disputados pelos nossos olhos, elegiamos qual seria de quem e ficávamos torcendo para o fim do processo.
Minha mãe era exigente, perfeccionista na arte da culinária, tudo que fazia florescia em suas mãos. Os pães novamente cresciam. Robustos, era hora finalmente de irem ao forno.
A casa então recendia amor e carinho quando os pães pouco a pouco exalavam seu aroma. Mais do que alimento era nos sentirmos queridos e aconchegados.
Quase ao fim da tarde, era hora da celebração... Sentados à mesa, degustávamos dos pães... Sob os olhos carinhosos de minha mãe.