(DES) ENCONTROS CONTEMPORÂNEOS

Trocaram endereços eletrônicos, números de celulares e algumas confissões. Um olhar disfarçado entre o conhecimento e a busca de intimidade. Despediram-se com fortes impressões e com promessas de almoços, jantares, cinemas... As horas compartilhadas tornaram-se lembranças em diferentes perspectivas, mas talvez com emoções convergentes. O outro representado como a extensão das palavras, com o encontro dos mesmos conhecidos, com as surpresas do acaso, com o brilho nos olhos, o arrepio na pele ante o involuntário contato de antebraços...

Como nunca haviam se encontrado se freqüentavam os mesmos lugares e conheciam as mesmas pessoas? Andavam entre si até tropeçarem no outro...

Fez-se noite. Ela dormiu com a lembrança, ele perdeu o sono em expectativas... Um encontro diferente. De repente, a face quase desconhecida era a presença familiar no pensamento, o anseio, a possibilidade de reencontrar o significado nas quase fictícias feições pinceladas nas recordações. Ela acordou com o desejo, ele permaneceu suspenso num prazer indefinido. De repente, as faces eram constantes na multidão, uma busca anônima. Quase uma brincadeira.

Por onde andariam os passos rotineiros, os movimentos quase autônomos, as palavras limitadas ao lugar comum das vestes dos dias? Tropeçariam em outros até percebê-los entre si...

O primeiro dia foi marcado por uma ligação não atendida. Um certo desconforto e já algumas dúvidas. Será? O segundo marcado por mensagens: “Saudade. Quando nos vemos?”, “Como está? Muito trabalho?”, “Eu vou bem e você?", "Me liga.”, “Quando?”... Tentaram se encontrar, sair com amigos comuns, mas a cada tentativa mais se desencontravam.

Os dias seguintes foram seguidos por escassas mensagens constrangidas. Por fim, encaminhavam apenas mensagens anônimas ou correntes. As feições se distanciavam: “Qual é a cor dos olhos?”, “Acho que os cabelos são castanhos...”, “Cicatriz?”, “Era gordo ou magro?”, “Alta ou baixa?”.

Amigos virtuais como tantos outros... Um dia se reencontraram no mesmo bar e não se reconheceram. Eram os mesmos e, por ironia, usavam as mesmas roupas, mas estavam tão diferentes e distantes que nenhuma percepção correspondia às lembranças perdidas nos plurais meios de comunicação.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 26/01/2007
Reeditado em 26/01/2007
Código do texto: T359478