A MALDITA INVEJA..

A inveja é antropofágica, come o próprio invejoso, digere as próprias vísceras com o fel do rancor recôndito, que não se mostra para não expor a putrefação da personalidade, canibal que é dos seus próprios sentimentos.

Sua pena é morrer aos poucos, ardendo na chama da angústia de sofrer o pecado de quem não cuida de si mesmo para mirar o êxito alheio, dilacerado e ultrajado pelo que soma de inveja do invejado. Lhe incomodam vitórias, sucessos e a felicidade tanto quanto o encantamento em que vive o invejado.

Não tem olhos para si, sua própria vida não lhe interessa, queria outra vida que não é sua, mas de outro. Entende que o invejado lhe tira o que lhe pertence, uma vida de alegrias. E morre lentamente...consome-o a labareda de um purgatório homeopático.

É triste, mas um enorme universo da humanidade vive assim, com suas lentes focadas não na sua vida, mas na de outros que queriam fosse a sua...é a maldita inveja, que solapa, diminui, inferioriza, arrasa o invejoso, andrajoso, farrapo de gente, banquete anímico de abutres, sempre achando o que não é, um superior anão, que se pensa nas alturas quando é mais rasteiro que o chão em que pisa.

Estamos na “Quaresma”, tempo de redenção onde é bom lembrar os pecados capitais, e nada pior que a inveja, filha da miséria humana disforme em caráter, irmã da soberba idiota, cujo fundamento é a patologia.

No Sinédrio, houve consenso em condenar Jesus como blasfemador de Deus e do sábado. Era a maldita inveja.. Este homem faz milagres e arrasta consigo numerosos discípulos, diziam os invejosos.

Caifás, o maior dos invejosos e sua turba, afirmava:

“Não compreendeis nada e não sentis quão vantajoso é para vós que pereça um só homem pelo povo, em vez de toda a nação”.

Era a infâmia da inveja convocando adeptos. Caifás, que representa justamente com os espinhos da coroa e a esponja do vinagre um dos instrumentos da Paixão, não pensava dar nesse momento um testemunho solene, conquanto velado e involuntário, da divina tragédia que ia começar. Caifás era o próprio espinho e o azedume do vinagre... o rancor invejoso dos fariseus.

Caifás e suas raivas vingativas, aliaram-se à fraqueza covarde de Pilatos, ainda que advertido por sua mulher, Prócula, sabendo que ia condenar um Justo. Não se compreende a ignomínia a não ser pela tradição de que a história ESTAVA ESCRITA. Até mesmo a traição de Judas, incompreendida, se explica na conformidade dos cainitas, imaginando que Judas, sabendo que Jesus devia, por sua própria vontade e pela do Pai, dar-se à morte por traição — para que nada faltasse à tortura da grande expiação — consentiu em aceitar dolorosamente a eterna infâmia, para que tudo se cumprisse.

A inveja torna-se maior do que a traição daquele que morreu no mesmo dia pelas próprias mãos pela forca, enforcou-se por não suportar entregar Aquele que foi seu mestre. Judas, assim, teria sido herói e mártir ao mesmo tempo, digno de ser venerado e não amaldiçoado.

Mas a inveja, como sede dos pecados capitais, é carregada por Caifás na história, estigmatizado pela condenação de Jesus de forma pior do que a inveja de Caim, que perambulou pelo mundo marcado para que não morresse jovem antes de expiar sua culpa.

O povo de Caifás expia até hoje para alcançar a Terra Prometida, em vão....

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 04/04/2012
Reeditado em 04/04/2012
Código do texto: T3594273
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