A VIDA PASSA RÁPIDO



Vendo na foto o barco que singra rápido as águas do belo rio, penso que assim passa a vida.
Acordo um dia e estou perto de me tornar uma sexagenária.
O mais interessante disso, é que a criança que fui um dia, ainda teima em viver em mim.
A menina moça sonhadora, teima em continuar sonhado sim.
E a jovem mulher, cheia de vida, dinâmica e corajosa, está lá sempre pronta a eclodir.
Elas se parecem com camadas de cebola que se justapõem uma sobre a outra, mas não se confundem.

No espelho é onde elas todas se mesclam. Na face as linhas cavadas pelo tempo, não deixa dúvida de que os 60 anos batem à porta.
Já nos lábios o sorriso, por vezes mostra-se encabulado, mas em outras, ainda gargalha como na mocidade.
Onde a criança arteira, e a jovem sonhadora pode facilmente ser encontrada é no brilho do olhar.
Ele não se intimidou pela ação do tempo, e muito menos se rendeu as dores experimentadas.
Guardou neles, o encantamento pelo viver, pelo saber, pelo conhecer. 
Nunca tenho preguiça ou tédio de abrir essas duas janelas para a vida.
Há cada ano que chega me encontra mais atenta ao que de fato tem valor. 
Cada dia mais, dou atenção a todos que compartilham minha existência, seja no núcleo familiar, entre amigos, ou conhecidos.

Ao longo da existência, fui aprendendo a sentir, o que me traz  paz, serenidade a alma, e portanto alegria de viver, e busco me cercar disso.
Com o auxílio do tempo, procurei conhecer-me.
Hoje, posso dizer que, não sou uma desconhecida de mim mesma, conheço minhas emoções, e com isso aprendi a tirar o melhor  proveito delas.
Sei do que gosto e do que não gosto.
Curto muito minha companhia, pois aprecio minhas escolhas.
Mas nunca dispenso, estar cercada pelas pessoas. Aprendo muito com todos.
Com os bons a tentar ser igual, e com os equivocados, a não repetir comportamento ruim.

Descobri valores em minha essência, ao longo dessas 60 primaveras. E reguei-os com água fresca e bom adubo, para que crescessem, e dessem frutos.
Defeitos em mim, sem dúvida encontrei muitos. Num processo difícil, mas não impossível, não lhes tenho dado alimento, e venho lhes negando água, na tentativa árdua de secá-los.

Muito, mas muito ainda tenho que reformar em meus hábitos. Porém, de uma coisa tenho absoluta certeza, quando o Pai Maior, chamar-me de volta para a Pátria de Origem, minha mala não estará vazia. 
Todos os dias busco colocar em minha alma uma bagagem mais cheirosa, menos pesada, e de valor real.

E assim, espero pelos 60, que estão à bater em minha porta, e desejo que venha os 70, e depois os 80, e quem sabe os 90. Espero continuar a adentrar cada um, cheia de vontade, na busca de me fazer um pouco melhor a cada novo dia.



(Foto da Autora)


 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 04/04/2012
Reeditado em 04/04/2012
Código do texto: T3594015