Gin-tônica e Arrebatamento

Sim, razoavelmente ébrios, voltando da farra, se encontram, por acaso, dentro de um ônibus, e creio que no ar reverberou aquela frase que era constantemente dita no grupo de amigos que se formara daquele primeiro encontro: vai dar merda!

Mas só os dois ouviram, mas ignoraram, fingiram que não ia acontecer nada. Mas o contato acontece. Os pensamentos começam a pipocar na mente dos dois. O inevitável se aproxima, velado por uma briga por causa da Mulher de Trinta Anos

A mulher de trinta anos?

O que ela tinha ela a ver com a mulher de 30 anos? Era só mais um livro.

Mais um do monte que ela colecionava.

Desculpa ou não, tudo se revela depois.

Novos dias, ele encontra alguém, mas só mais alguém. Como sempre.

E ela? Ela continua na mesmice auto-imposta.

Apesar da diferença (enquanto ele pula de corpo em corpo buscando algo que nem sabe o que é e ela espera numa mesmice auto-imposta por algo semelhante) das suas situações, o resultado prático era o mesmo: um vazio, uma lacuna a ser preenchida. Analogamente falando: era uma coluna vazia, onde faltava um pedreiro para preenchê-la com o concreto que é feito com felicidade, amor e companheirismo.

(Que merda de metáfora)

Eu fecho a janela, mas tenho o histórico.

Embora o “problema” fosse o mesmo para ambos, um não poderia resolver o do outro, ou talvez pudessem, mas o medo impedia, porque certas semelhanças os faziam prever o final de tudo.E o cansaço - ou a consciência - dizia para ficarem ali, intactos, inertes, da mesma forma que estavam antes. Amigos? Por que não? É o que dava certo.

Então por que não manter?

Era uma resignação, um acordo tácito que ambos fizeram. Já sabiam, eram cientes de seus poderes mágicos de se enfadonharem com o sexo oposto. Eram exigentes com seus próprios interiores e raramente agradavam a si próprios.

Então, o que esperar de um outro alguém? Sim, sabiam que se algo fosse tentado apenas impulsionado pelas circunstâncias da solidão de ambos, acabariam se odiando e estragando uma amizade - um pouco cáustica, diga-se de passagem. Mas, será que deveriam, eles, tentar? Colocar em prática a terceira lei de Newton: um empurrar o outro com suas forças idiossincráticas e criar uma força única?

Independente de toda física usada para tentar discernir o que ali acontecia, uma coisa era exata: um mantinha o outro bem a própria maneira, do jeito que sabiam e podiam.

E era isso que os mantinham ali, é isso que os atraia a conversas inexatas, a desabafos quase previsíveis, e a dúvidas modorrentas, de quão longe poderiam levar tudo.

Mas, longe onde? Em matéria de tempo, longe onde? Semanas? Meses? Anos? Se agüentariam por quanto tempo? Corresponderiam às carências um do outro? Eram seres exóticos, auto-suficientes (assim se achavam) e odiavam marcar compromissos; daria algo tão inclinado pro errado, certo?

(Setecentos dias depois)

Quero um abraço apertado. E ver você ficar quieto, de boa, e brigar com você, pra você falar. Quero reclamar da vida com você.

Poxa, eu não sou a melhor amiga do mundo. Mas os poucos que eu conquistei nesse tempo, eu considero. E porra, to cansando de mimimi, e dizer que to com saudade, então vê se vem me ver, ou vamos fazer algo, antes que eu quebre sua cara em 5, seu viadinho!

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Março de 2012

Abril de 2012

Zander - Dialeto

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 03/04/2012
Reeditado em 03/04/2012
Código do texto: T3593130
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