O JOGO
O hábito era antigo, quando saía do serviço, antes de chegar em casa sempre passava num boteco perto de casa para beber uma cerveja, comer algum petisco e prosear um pouco com algum conhecido e desintoxicar um pouco a mente.
O boteco era simples, um enorme balcão, algumas mesas onde sempre ficavam alguns jogadores de baralho jogando um jogo chamado caxeta e um proprietário maravilhoso que sempre tinha aquela cerveja bem gelada e aquele torresmo pururuca que não havia cirurgião cardíaco capaz de retirá-lo das artérias entupidas de tão delicioso que ele era.
Naquele dia cheguei ao boteco cumprimentei todos, sentei no meu banco favorito e senti que algo estranho estava acontecendo, pois todos os jogadores de baralho estavam muito sérios e muito apreensivos, aí pensei: “Deve ser pela quantia que está em jogo” e segui bebericando minha cerveja estupidamente gelada e degustando o maravilhoso torresmo pururuca.
Repentinamente um dos jogadores começou a passar mal, começou a transpirar muito, ficou pálido e todos retiraram o jogador da cadeira e encostaram o mesmo numa outra cadeira, substituíram o jogador e o jogo continuou normalmente.
Às vezes um ou outro jogador olhava de soslaio para o pobre jogador moribundo que jazia naquela cadeira e eu não me contive e cheguei perto do homem e o mesmo estava com a cabeça para trás, gelado e foi aí que gritei para o proprietário que estava limpando algumas garrafas de aguardente que viesse socorrer aquele homem, pois o mesmo estava muito mal.
O proprietário chegou perto do homem, pegou seu pulso, passou a mão na testa e disse: Este acabou de morrer! "Já éra".
Fiquei impressionado com a frieza de todos, paguei aquilo que tinha consumido e fui embora muito chateado sem saber o que tinha acontecido e só fui saber no outro dia que aquele homem tinha realmente morrido na mesa de jogo, tinha sido vítima de um ataque fulminante do coração. Nunca mais entrei naquele boteco, pois tinha medo de também ter um ataque cardíaco e ninguém me socorrer.