Medo , Delirio e Loucura .

São Thome Das Letras

Reveillon 2010

- O que você ta fazendo ai , cara ?

- Ela me expulsou do quarto ,mano .

- Porra , quem te expulsou do quarto ?

- A caipora !

E dificil descrever o pavor no rosto do meu amigo Leandro quando ele me confidenciou tal fato com os olhos cheios de lagrimas e meio

copo de rum ao lado .

Medo e delirio

Ele estava surtando .

O levei para o quarto e ofereci um copo de água . Ele bebeu o copo

todo , acendeu um cigarro e ficou estatico , encolhido num canto da

cama com os olhos pregados na parede . Eu estava chapado e

aquela cena me deixou preocupado .

Leandro , Jessica , Danilo e eu haviamos chegado a São Thome tres dias antes da caipora . Depois de nove horas dentro de varios onibus

sujos e fedidos todos estavamos desesperados por um banho e uma dose de um bom destilado . Chegamos por volta das 18h , e a primeira coisa que tinhamos que fazer era encontrar um lugar para ficar . Tentamos varias pousadas , principalmente as com aparencia mais humildes , pois não tinhamos tanta grana para algo '' chic'' . Não

nos interessamos pelas duas primeiras . A primeira porque quando entramos para conhecer o lugar ouvimos um funk da porra estalando num cacho de abelha . A segunda não me lembro bem , mas acredito que foi por causa do preço . Eu estava cansado e sem pic para caçar um barraco , então me enfiei num bar que fica na esquina da praça da igreja e pedi uma pinga figuinho . Devia estar na quarta dose quando

Leandro apareceu saltitante e com um sorriso de orelha a orelha .

- Então , encontraram um lugar ?

- Que ? não , ainda não . Mas achei algo melhor ?

- Hunn

- Olha aqui .

Ele tirou uma garrafa de dois litros da mochila , com um litro e meio de chá de cogumelo .

Leandro é um profundo e dedicado apreciador de produtos naturais , e aquela garrafa cheia de loucura o deixou em êxtase . Ele queria logo

sair bebendo aquele treco e tudo , mas o fiz se sentar e degustar algumas doses de pinga ; ainda era muito cedo para cometer tal barbaria . Não demorou muito e já estavamos os dois bêbados , fumando um cigarro atras do outro , bebendo cervejas e comendo amendoim . Decidimos comprar logo uma garrafa do mél , e seguimos em direção ao Bar Do Dois , mas o lugar ainda estava fechado . Retornamos a praça da igreja , nos sentamos nas escadas e ficamos ali , apreciando alguns bons rabos e matando shot's de água ardente .

- Onde foi que você arranjou isso ?

- Isso o que ?

- Esse chá todo .

- Conheci um maluco ai .

Leandro sempre esta conhecendo malucos ai . Desisti de querer saber a procedencia do material .

Quatro belos pares de coxas nos fitaram de longem e tomaram o rumo das escadas em nossa direção . Sem duvida , as coxas mais

perfeitas que eu já vi na vida . Leandro não deu bola , estava abrindo a garrafa de chá e cheirando o conteúdo .

- Olá .

- Sim .

- Sim ? Sim o que ? - perguntou uma morena de olhos verdes .

- Não , não e nada . Então , querem ? - Estiquei a garrafa de

cachaça na direção delas .

- Não , não , obrigada . - Elas riram .

- Sabe , e que estamos procurando um lugar para ficar . Vocês

não conhecem nenhuma pousada legal por aqui ?

- Foi mal , é que tambem somos turistas , mas ...

Dai Leandro abriu a boca e cagou em tudo .

- Fala ai , quanto vocês estam cobrando ?

As quatro com cara de paisagem .

- Não , vocês entenderam mal . Tô querendo saber quanto estão

cobrando pelo '' banza '' . Estou afim de comprar , tenho grana ,

fala ai , quanto ?

- Vai se ferrar , seu bosta . Hey , otario , ve se cuida de desse seu

amigo .

As quatro viraram as costas e se mandaram .

- Que merda você acha que ta fazendo , cara ? - Falei , nervoso .

- Estou afim de um banza , mano . Estou mesmo afim .

Meu celular tocou , eram Jessica e Danilo .Tinham encontrado um lugar para ficarmos , mas precisavam da nossa parte da grana para acertar tudo . Jessica me passou as coordenadas e então seguimos em direção ao seu encontro .

Já estava bem escuro quando conseguimos nos abrigar na pousada do Geremias ( ou seria Gilberto ? . O fato é que minha memoria anda uma bosta . ) Era um lugar bel legal . A pousada tinha oito quartos com duas beliches cada . Dois andares ; quatro quartos no terreo e quatro no segundo andar com um banheiro cada piso . E era só isso . A filha do Geremias ( ou Gilberto ) morava em frente a pousada , e para não perder grana eles alugavam até a lage dA casa para pessoas com barracas .

Tomamos um banho numa água que parecia ser o cuspe do capeta de tão quente e nos preparamos para nossa primeira noite . Jessica era ex namorada de Leandro , e estava saindo com Danilo , por isso nos dividimos na maior parte de nossa estadia na cidade .

Eu e Leandro subimos até a cruz atras do bar do dois , enquanto Jessica e Danilo sei lá . Eu tinha levado uma garrafa do bom e velho Jack , que comecei a beber sentado sobre as pedras escorregadias que leva até a cruz . Leandro ficou tirando fotos da neblina por um tempo , depois se sentou , dichavou , enrolou e acendou a bomba . Acendi um cigarro e ficamos ali trocando ideia por uns quinze minutos , até que duas figuras incriveis apareceram para fumar com a gente . Sem duvida duas das pessoas mais loucas que ja conheci . Eram dois amigos de Recife que tinham se conhecido em Thome a doze anos . Um era professor , e tinha o apelido de professor , o outro se auto apelidava de Jhon Lennon , e não sei o que fazia da vida . Os dois estavam de ferias e viajando pelo Brasil a dez dias ; tinham uma fala mansa e educada . Com a cabeça cheia de álcool prometi a mim mesmo que um dia faria uma viajam cortando o Brasil de ponta a ponta como Sal Paradise e Dean Moriaty .

Leandro entrou numa conversa cabeça com nossos recem conhecidos que não consegui acompanhar . Deixei eles darem um nó em suas mentes enquanto fui dar uma mijada na nossa humilde pousada . Sei que poderia dar uma mijada em qualquer canto , mas estava afim de caminhar entre aquelas ruas de pedra , cobertas por todos aqueles pequenos cristais espalhandos no manto negro sobre nos . Me apaixonei por cada bela nativa que cruzou meu caminho ; pelo jeito simples delas , que sem querer transbordava uma beleza natural , beleza em estado bruto . Cheguei ao nosso quarto sentindo que cada boa noite sincero que recebi no caminho havia trazido de

volta em mim um pouco de algo que eu estava perdendo aos pouco , mas que não sabia o que era .

No quarto , depois da mijada , encontrei sobre a cama de Jessica uma cartela de codeina . Mandei duas pra dentro junto de um bom gole de jack . Senti meus pés afundarem levemente no chão , como se eu estivesse calçando um tenis caro de marca cheio de amortecedores e gel e tudo mais . Desci as escadas e fui abordado pela filha do dono da pousada , que morava na casa em frente .

- Oi , vocês estão gostando da cidade ? - Perguntou ela .

- Sim , sim , claro . A cidade é ótima . Inclusive as pessoas .

- Que bom .

O papo acobou indo e indo e indo . Ela era uma mulher de uns trinta e poucos anos , bastante simpatica . Tinha dois filhos de cinco e dez anos e uma garotinha linda de uns tres . O marido trabalhava em Tres Corações fazendo não sei o que durante a noite .

Acordei as oito horas do dia seguinte , com Danilo , Jessica e Felipe

pondo fogo em outra bomba . No radinho portatil que alguem tinha levado tocava Eleonor Rigby que logo em seguida deu lugar a I'm Only Sleeping . Jessica me esticou um copo de café com conhaque e um cigarro aceso . Joguei uma água no rosto e comi algumas torradas de

alho que eu tinha levado . Notei que os quartos estavam todos lotados , a pequena pousada transbordava , até mesmo a lage ja estava repletade barracas . Todos aqueles malucos tinham povoado o lugar durante a noite . Incrivel !

- Vocês viram isso ?- falei - Toda essa gente , invadiram o lugar

durante a noite . E eu nem percebi .

- Deixa dessa , mano . Senta ai e fuma essa bagaça .

- Ainda são oito horas , dispenso .

- Oito horas ? Cara , ja passam das quatro da tarde !

Eu tinha dormido demais . Nesse momento confirmei o que já sabia :

sou pessimo para ver as horas no sol .

- O que é isso ai que estão fumando ?

- É uma parada louca que o professor e Lennon nos arranjaram . -fa-

lou Leandro depois de um trago .

- E erva e cogumelo seco dichavado .

Dispensei a parada . Pode-se dizer que eu fiquei com medo . Meu plano para o dia era ir ate as cachoeiras e curtir lá . Mas meus tres companheiros já tinham ido enquanto eu dormia , me mostraram as fotos e me arrependi de ter caido tanto tempo no sono . Fiquei disacorsoado , mas haveriam outras oportunidades . Vendo meu desapontamento , Jessica me abraçou e me deu um beijo no rosto . Jessica sem duvida era e é um pecado ambulante , e quando chapada se torna ainda mais amorosa do que o habitual , não que fique oferecida e vulgar , só mais amorosa e sem duvida mais atraente . Da pra entender porque Leandro mesmo depois de chutado para escanteio ainda é apaixonado por ela . De certo modo eu tambem sou .

Decidimos comprar cerveja e gelo , arranjar uma caixa de papelão para por tudo e subir até a piramide curtir o por do sol . Eu tomei

mais uma adaga de codeina e bebi uma talagada do mel figuinho . Quando deu seis horas subimos as ruas de pedra cambaleantes , nos

abraçando para não cairmos ; estavamos felizes e isso era tudo que importava .

Depois de muito sacrificio chegamos ao lugar . Tinha umas vinte pessoas espalhas ao redor da casa ( piramide ) . Um cara tocava um

reggae que desconheço a autoria ( não sou muito fã do estilo ) deixando o clima do local ainda mais agradavel . Eu senti que estava

faltando alguma coisa , algo muito importante , e quando ouvi a canção saindo da boca de uma lata sendo violentada falei :

- Ei , pessoal , esquecemos da cerveja !

Ninhum dos meu parceiros ouviu minha queixa . Então um cara com

um gorro muito louco , roxo , sentado ao meu lado me disse :

- Ei , irmão , bebi essa ai .

Ele me esticou uma lata bem gelada , suada e saborosa . Agradeci , e ficamos por um tempo conversando , nada de serio , so conversan-

do . Ele me disse que seu nome era Felipe , e estava viajando pelo estado de Minas , procurando emprego . Pelo que eu entendi , Felipe

viajava desde os quinze anos , passando por São Paulo , Rio De Janeiro e Minas , que era seu estado natal . Logo Leandro e ele se

indentificaram na loucura e sumiram . Danilo tambem tinha desaparecido , havia ido a uma pastelaria comer um pastel gigante de 1 kg . Ficamos então só Jessica e eu , tirando fotos e dando risada .

- John , vou acender outro cigarrinho turbinado , fuma comigo ?

- É aquele com cogumelo ?

- Sim .

Pensei um pouco sobre , mas mandei a merda . O negocio era forte , muito forte , e logo fiquei chapado . Felipe tinha deixado seu fardo de cevada ali . Seria um pecado deixar toda aquela cerveja esquentar e chocar , então Jessica e eu caimos dentro . Conforme o tempo passava fomos ficando cada vez mais loucos . Eu senti que estava

perdendo o controle enquanto Jessica parecia aguertar firme a parada .

- Foi mal , Je . Tô muito doido . Esse negocio ai acabou comigo .

- Haaaa , tadinho ... Não esquenta não , tô aqui , beleza !

Eu estava pendendo de um lado para o outro , então ela me deitou em seu colo . O céu estrelado parecia piche sendo batido no liquitificador , com varias pedrinhas de vidro dentro . As mãos dela

afundaram nos meus cabelos , Jessica me deu um beijinho na testa e depois deu outra tragada no '' banza'' dos duendes .

- Jé , te amo . - Falei todo mole .

- O que Foi , John ? Não entendi

- Eu disse que te amo .

- Eu tambem , amor .

- Não , é serio mesmo .

Então ela ficou seria apor um tempo .

- Sabe , eu tambem te amo . Sempre te amei , mas estou com o

Danilo .

- Sei ,sei , sei . Ta certo , só queria deixar isso registrado .

Depois eu sai de seu colo , disse que estava melhor . Então , enquanto tentava manter o foco em alguma coisa , fui surpreendido por um beijo molhado e quente . A codeina me fez sentir todos os musculos da minha face trabalhando em conjunto com os de Jessica .

Meu deus , eu não queria mais larga-la , e ela tambem não me soltava , até que ela me empurrou .

- Espera , espera um minuto . E se Danilo nos ver ? - Disse ela .

- Esta certo , não devemos fazer isso .Danilo e meu amigo .

- Sim , é verdade , ele não pode nos ver .

- Concordo .

- Que tal voltarmos para pousada ? Me acompanha ?

- Jé , somos amigos a quantos anos ? cinco , seis ? Sei lá . O fato é

que eu não jamais iria te deixar voltar pra casa sozinha louca do jeito

que você esta .

- Sabia que poderia contar com você , John .

- Claro . Sempre .

E fomos nos para a pousada , nos atracando em cada canto escuro e viela que encontravamos . Quando chegamos , caimos direto na cama . Porra , pensei , sou um canalha por estar abusando da Jé no estado que ela esta . Ela esta de ponta cabeça , a parada bateu forte , da pra ver . Merda , eu tambem estou todo fudido de tão chapado . Talvez seja ela quem esteja abusando da minha generosi-

dade e boa fé em acompanhá-la .

Acordei no dia seguinte com a boca seca e nu em pelo . Olhei em volta e estava rodeado de gente estranha . Vesti as calças e fui até a porta olhar o numero do quarto . Era sem duvida o quarto errado ; o numero pintado na porta era o dobro do que deveria ser : 4 . Peguei minhas roupas e subi de mansinho ate o meu aposento . Quando cheguei lá estavam todos capotados nas beliches . Jessica e Danilo abraçados , dormindo profundamente na parte de baixo de uma . Os dois cobertos com meu camisão xadrez . Acendi um cigarro tentando entender o que havia acontecido . Teria mesmo acontecido ? O que eu estaria fazendo no quarto de baixo ? Enquanto eu forçava minha mente em fragalhos para tentar lembrar de algo , Jessica acordou

- Bom dia ! - Disse ela .

- Bom Dia .

- Chegou agora ?

- Bem , sim .

- A noite deve ter sido mesmo boa , não é ? Por onde andou ?

Fiquei em silêncio . Ela deu um sorrisinho .

- Nossa , fiquei muito mal ontem . Você tambem , aquele negocio e

mesmo forte .

*

Eu estava destruido por dentro . Santo deus , tinha abusado

nas ultimas 48 horas . Compramos pão e queijo para fazer um lanche

e recompor as forças para o ultimo dia . A cidade transboradava , os fogos estavam sendo preparados , musica rolando na praça da igreja ,

mulheres lindas vindas de todo Brasil desfilando sobre as ruas aciden-

tadas de pedra . Esse era o dia . Ele prometia . O unico problema é

que estavamos ficando sem dinheiro . Eu mesmo só tinha um pouco mais que a grana da passagem . A bebida estava acabando , mas ainda tinha o chá e quinze bombas de cogumelo dichavado . Consegui algumas latas de cerveja com um pessoal que estva acampado na lage . Tomei duas adagas de codeina , fumei alguns cigarros , e tentei descobirir alguma coisa sobre o que tinha se passado na noite anterior com Jessica , mas ela agia como se nada tivesse acontecido . Ao meio dia estavamos todos fora de controle , dançando no pegueno quarto

pisando e tropeçando em baganas de cigarro e latas vazias ao som de Satisfaction . A telha de amianto sobre nossas cabeças transformou o lugar numa estufa ; suavamos em bicas , um suor com grande porcentagem álcoolica . Jessica se esfregava em mim enquanto Danilo punha fogo na bomba outra vez . A mente de leandro viajava pelas

pequenas rachaduras na parede azul , toda rabiscada de lapis , com

numeros de telefone , frases , nomes ; ele registrava tudo em fotos com seu celular , balbuciando sons animalescos .

- Vamos fechar todas as portas e janelas ! - Gritou leandro .

- Só tem uma porta e uma janela aqui .- Alguem disse .

- Foda-se , vamos fechar tudo , acender essas maravilhas que

Lennon nos deu , cozinhar aqui dentro !

- Você é quem sabe .

Trancamos tudo , acendemos a luz ; fizemos o que ele pediu . O ar

em pouco tempo ficou viciado , quase impossivel de se respirar . As cervejas que eu consegui com os caras na lage estavam quentes . Ficamos reencostados nas beliches , esparramados no chão imundo . Jessica escorada em mim , só de short e a parte de cima do bikini . Leandro , Danilo e eu de bermuda . Só o fato de respirar ja fazia a mente explodir . Acabamos com as codeinas , acabamos com as cervejas . Era chegada a hora do chá . Não havia mais para onde correr.

- Hey , cara , me passa aquele chá . - Falei .

Leandro estava debaixo da cama , abraçado com a garrafa vazia . Olhos arregalados , olheiras , com uma possa de suor em volta .

- Cara , você tomou toda a bagaça !

- Sim ,sim , sim . Pode ser . Espere ai , tira a mão de mim !

- Deixa ele - Disse Jessica .

- Claro que é verdade - Resmungou Leandro - Cachorro mordido por

cobra tem medo até de linguiça !

De repente Danilo se levantou , abriu a porta e rompeu rua a fora . Leandro vazou logo depois , de oculos escuros e descalço . Jessica e eu permanecemos ali mais um pouco , sem conseguir levantar . Depois de muito labutar , me pus em pé , caminhei em direção a porta ; era noite . Haviamos ficado trancados no quarto durante toda a tarde . Quando me voltei para Jessica para dizer que já era noite , ela não estava mas lá . Fiquei assustado , estava sozinho . Todos tinham sumido . Eu , sem nenhum tostão no bolço e sem bebida . Estava desarmado , vulneravel . Tive a impressão que tudo não passava de uma armadilha . Sim , uma armadilha , malditos ratos .

Apanhei os ultimos dois cigarros de cogumelo e sumi . Apaguei , e voltei a mim no momento em que os fogos explodiam. Leandro , Danilo ,

Jessica e eu nos abraçando . Uma garoa caindo , um '' banza '' de 50g

queimando ao meu lado nas mãos de um maluco como uma tocha . Os fogos explodiram por uns cinco minutos , quem sabe dez . Eu não sei .

Um FELIZ ANO NOVO surgiu em meio a neblina . Gigante , magistral , incrivelmente lindo . Todos gritaram e apaludiram . Fiquei feliz por fazer parte daquele momento .

Garrafas surgiram , de todos os tipos e sabores . Professor e John Lennon passaram por nos , tão bebados quanto todo mundo . Jessica e Danilo se agarrando enquanto Leandro falava e gesticulava com Felipe . Era isso . Mais um ano era estendido a minha frente . Eu não tinha pedido para nascer , mas não tinha do que reclamar .Pelo menos naquele momento .

Voltei para a pousada as 5h30m . Me arrastei escada a cima penosamente . Nosso onibus saia as 6h30m . Então encontrei Leandro

acuado ao lado da porta do nosso quarto .

- O que você ta fazendo ai , cara ?

- Ela me expulsou do quarto , mano .

- Porra , quem te expulsou do quarto ?

- A caipora !

Estava tudo acabado . Os limites haviam sido ultrapassados . Preci-

savamos fugir daquele lugar antes que algo de ruim acontecesse . Chegamos a rodoviaria as 6h28m , deinxando para trás um quarto imundo e uma carta de agradecimento ao sr Geremias ou Gilberto ou

sei lá o que . Dailo e Jessica estavam esperando por nos , dentro do onibus . Leandro e eu fomos empurrados para dentro da lata de sardinhas . Tinhamos nove horas de estrada pela frente , e o mais terrivel de tudo : 365 dias a serem vencidos .

02/04/2012

7h32m