O jumentinho de Jerusalém
Enquanto assistia, pela televisão, a procissão do Domingo de Ramos, lembrava-me daquele jumentinho que levou o Mestre pra Jerusalém.
Dirão: ô, lembrando-se logo do jumentinho? Por que não de Jesus, naquele domingo, a caminho do Calvário? O jegue que Lhe serviu de transporte é, por acaso, mais importante do que ele, o Profeta de Nazaré? Calma, pessoal! Não é bem assim.
Ainda diante da televisão, e ouvindo os últimos acordes do Benedictus, abri meu notebook. Pensei imediatamente em escrever alguma coisa sobre o jumentinho de Jerusalém.
Como não sabia como começar a crônica, fechei o computador. Passei, então, a folhear os jornais do Domingo de ramos.
Eis que, no jornal A Tarde, de Salvador, dei com os artigos de dois excelentes jornalistas que haviam se inspirado no jegue da Bíblia para escrever suas páginas, neste início de Semana Santa.
O primeiro, do meu dileto amigo João Ubaldo Ribeiro, e o segundo de Dom Murilo Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e primaz do Brasil.
Li e reli os dois artigos. E, rapidinho, conclui que nada mais eu tinha a dizer, depois que, sobre o jumentinho de Jerusalém, dissera o João e o bispo.
João Ubaldo - e esse também era o meu propósito - foi buscar na sua infância aqueles clichês que mostravam o jumento, Jesus montado nele, entrando, debaixo dos aplausos da multidão delirante, na cidade de Jerusalém, sabendo, porém, que dentro de poucas horas, essa mesma multidão o levaria ao Gólgota.
"Hoje é Domingo de Ramos e me lembrei de estampas dos livros de minha infância, mostrando Jesus entrando em Jerusalém, cercado por folhas de palmeiras agitadas pelo povo e mantado num jeguinho", recordou Ubaldo. Escreveu e escreveu muitas coisas bonitas sobre os nossos jegues.
Condenou as sacanagens armadas com o intuito de menosprezar, desmoralizar, o paciente e destemido animal. Como, por exemplo, chamá-lo de animal "pouco inteligente (burro?) e de temperamento abrutalhado."
Lembrou ainda que, no nordeste, o jumento é considerado, pelo pessoal antigo, como um animal "abençoado". E cita as passagens da Bíblia nas quais é decisiva a participação do velho jegue. Surpreendente o carinhoso artigo do romancista baiano.
Dom Murilo, por seu turno, foi o Pastor, discorrendo sobre "O jumentinho e a vaidade", e a presença do jegue na festa de ramos. Aproveitou, claro, para evangelizar, no seu estilo direto num artigo bom de se ler.
E fecha-o contando o que ouvira de Dom Helder Câmara. Diz Dom Murilo, que o saudoso e respeitado Arcebispo de Recife e Olinda e Madre Tereza de Calcutá participavam de um Congresso Eucarístico nos Estados Unidos, onde fariam conferências.
Os dois foram recebidos pela multidão presente ao estádio debaixo de intensos aplausos. Dom Helder se dirigiu à madre e lhe perguntou: "O que a senhora faz para que momentos assim não a deixem vaidosa?"
E ela, com naturalidade, respondeu ao prelado: "Muito simples: lembro-me do Domingo de Ramos e digo a Jesus: "Tu é que estás entrando aqui e sendo aclamado. Eu não passo do jumentinho que te carrega!"
Sem dúvida uma resposta que induz à reflexão durante a Semana Maior.
Ah, o velho e doce jegue, nos versos do padre Antônio Vieira, o cearense e não o do estalo, chamado, ternamente, de "nosso irmão!"
Enquanto assistia, pela televisão, a procissão do Domingo de Ramos, lembrava-me daquele jumentinho que levou o Mestre pra Jerusalém.
Dirão: ô, lembrando-se logo do jumentinho? Por que não de Jesus, naquele domingo, a caminho do Calvário? O jegue que Lhe serviu de transporte é, por acaso, mais importante do que ele, o Profeta de Nazaré? Calma, pessoal! Não é bem assim.
Ainda diante da televisão, e ouvindo os últimos acordes do Benedictus, abri meu notebook. Pensei imediatamente em escrever alguma coisa sobre o jumentinho de Jerusalém.
Como não sabia como começar a crônica, fechei o computador. Passei, então, a folhear os jornais do Domingo de ramos.
Eis que, no jornal A Tarde, de Salvador, dei com os artigos de dois excelentes jornalistas que haviam se inspirado no jegue da Bíblia para escrever suas páginas, neste início de Semana Santa.
O primeiro, do meu dileto amigo João Ubaldo Ribeiro, e o segundo de Dom Murilo Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e primaz do Brasil.
Li e reli os dois artigos. E, rapidinho, conclui que nada mais eu tinha a dizer, depois que, sobre o jumentinho de Jerusalém, dissera o João e o bispo.
João Ubaldo - e esse também era o meu propósito - foi buscar na sua infância aqueles clichês que mostravam o jumento, Jesus montado nele, entrando, debaixo dos aplausos da multidão delirante, na cidade de Jerusalém, sabendo, porém, que dentro de poucas horas, essa mesma multidão o levaria ao Gólgota.
"Hoje é Domingo de Ramos e me lembrei de estampas dos livros de minha infância, mostrando Jesus entrando em Jerusalém, cercado por folhas de palmeiras agitadas pelo povo e mantado num jeguinho", recordou Ubaldo. Escreveu e escreveu muitas coisas bonitas sobre os nossos jegues.
Condenou as sacanagens armadas com o intuito de menosprezar, desmoralizar, o paciente e destemido animal. Como, por exemplo, chamá-lo de animal "pouco inteligente (burro?) e de temperamento abrutalhado."
Lembrou ainda que, no nordeste, o jumento é considerado, pelo pessoal antigo, como um animal "abençoado". E cita as passagens da Bíblia nas quais é decisiva a participação do velho jegue. Surpreendente o carinhoso artigo do romancista baiano.
Dom Murilo, por seu turno, foi o Pastor, discorrendo sobre "O jumentinho e a vaidade", e a presença do jegue na festa de ramos. Aproveitou, claro, para evangelizar, no seu estilo direto num artigo bom de se ler.
E fecha-o contando o que ouvira de Dom Helder Câmara. Diz Dom Murilo, que o saudoso e respeitado Arcebispo de Recife e Olinda e Madre Tereza de Calcutá participavam de um Congresso Eucarístico nos Estados Unidos, onde fariam conferências.
Os dois foram recebidos pela multidão presente ao estádio debaixo de intensos aplausos. Dom Helder se dirigiu à madre e lhe perguntou: "O que a senhora faz para que momentos assim não a deixem vaidosa?"
E ela, com naturalidade, respondeu ao prelado: "Muito simples: lembro-me do Domingo de Ramos e digo a Jesus: "Tu é que estás entrando aqui e sendo aclamado. Eu não passo do jumentinho que te carrega!"
Sem dúvida uma resposta que induz à reflexão durante a Semana Maior.
Ah, o velho e doce jegue, nos versos do padre Antônio Vieira, o cearense e não o do estalo, chamado, ternamente, de "nosso irmão!"