Escamador de peixinhos-de-aquário
Um favor. Favor não: favorzaço, ele pediu. Descasca aí pra gente estas batatas. Tudo bem se não fosse pelo tamanho. Eram do tamanho de bolinhas, quando muito bolões – de – gude.
Fiquei vendo aquilo: as batatinhas redondinhas sendo descascadas uma a uma. Quando iria terminar essa tarefa? Qual seria a próxima receita? Quem seria o escalado para lidar com os ingredientes? Por bem, o melhor foi tomar outro gole, tentar esquecer que poderia ser eu o próximo. Fazer piada com aquilo talvez ajudaria a prevenir pratos futuros.
Enquanto isso, o franguinho chiava na panela, pedia os acompanhamentos. Zé Francisco, o cozinheiro e dono, segundo ele, de receitas fantásticas e, cá pra nós, torturantes, como esta, encontrava-se animado. Entre umas e outras, prometia para aquela noite um frango com açafrão daqueles. A gente lá, mais querendo beber e conversar, digo, sacanear o gourment. Foi aí que perguntei-lhe se conhecia alguma receita que levasse peixinhos – de – aquário. Quis saber qual de nós seria escolhido para a tarefa de escamador de peixinhos – de – aquário. A resposta, claro, foi um palavrão.
Seguimos até o final das conversas, garrafas e da panela. Sobre a próxima receita, nada foi decidido. Uma coisa é certa, se não movi uma palha para o fogão e para o cozimento desta receita-gincana, amanhã terei que arrumar a cozinha. E já estou olhando com canseira para aquelas cascas minúsculas perdidas pelos cantos, roupas das batatas que não encontrei no prato.
Ah, Zé Francisco!