Vira-Égua, Flerte Caipira

Estranho nome não é mesmo... nada de mais...

As pessoas da comunidade de um pequeno município do interior, tem que se encontrar de alguma forma. Há sempre que existir algum jeito para o Relacionamento social!

Na pequena Bernacity, não era diferente.

Quem não podia freqüentar um Club, ia para a praça, ver o Vira-Égua. Quem sabe não aparecia também por lá nesse sábado, "aquela muié, morena bunita das Água da Vertosa" (Águas Virtuosas - Nome de uma fazenda ou bairro rural).

Podia também ser a outra lá do Lageado, ou a Maria lá do Douradão, enfim, qualquer uma...

Enquanto não existia o novo jardim, com fonte luminosa, as beldades sertanejas e as da cidade também, depois de dura semana, ficavam andando na calçada da rua central.

Iam até a ponta do velho jardim, então com grandes árvores, viravam e voltavam pela calçada até a esquina da padaria do Salandini, passando defronte ao cinema, Bar XV e Bar Caçula.

Os marmanjos e candidatos, formavam uma espécie de corredor polonês.

Ficavam mexendo com as moças que iam e vinham em duas ou três de braços dados, alguns diziam gracejos, outros elogiavam, outros diziam absurdos, outros puxavam os cabelos, e assim iam... até os pares se encontrarem.

Se os olhares se cruzavam, esperava-se a volta para confirmar. Se havia pressa, ela virava antes, não ía até o fim do desfile... vai que perde o candidato... Às vezes, esse flerte demorava algum tempo para resultar em namoro, ficava até para outros fins-de-semana. Tinham que “criar coragem”...

Encontrada a "tampa do balaio", lá iam os casaizinhos mais afoitos a trocar carícias atrás da igreja ou nos cantos mais escuros.

Algumas vezes, o Monsenhor Francisco não gostava e até jogava água no casal: “Debaixo da janela da sacristia não! Vão se esfregar prá lá!”

Nessas maluquices, chega o Fedegoso, apelido do pedreiro vesgo, que depois de umas cachaças, cria coragem e fala para sua adorada, no meio de todos no Vira-Égua:

- Trupica no seu orgúio e caia nos braços de quem te quer!

Foi numa dessas que o Lorde, apelido do Jaime filho do coveiro, encontrou a sua amada Nilza, e a Catarina e Ivone, tão mal faladas, também acharam seus companheiros... E já estavam chegando as mais novas maluquinhas como a Benê...

Tinham também os desencontros, mas logo as coisas se ajustavam!

Enquanto isso, o Eliseu, motorista de taxi, se divertia explodindo bombas debaixo do banco dos motoristas, até que aparece o Raimundão Soldado e lhe adverte... Ele, o Eliseu, fazia lotações para levar a turma passear em outras freguesias... Piraju, Ipaussu, Santa Cruz, Manduri... onde certamente haviam outros Vira-éguas, com as moçoilas casadouras de faces diferentes daquelas, ou então seguiam ainda para emoções mais fortes nas casas da luz vermelha...

E assim seguia a vida naquela cidadezinha bucólica...

Bons tempos, singeleza e paz!

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 25/01/2007
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T358877
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.