Sísifo Grego, Sísifo Meu
Num tempo em que na Grécia não havia crises, só mitos - e guerras, talvez – contam que viveu um Sísifo tal. Ele, tendo feito algo desagradável aos olhos dos deuses do Olimpo, foi condenado a passar a vida numa montanha levando uma pedra do pé ao topo sem jamais atingir o objetivo, pois a pedra, uma vez no cimo, rolava de cima abaixo e lá ia Sísifo fazer tudo outra vez. Já eu penso que nos primeiros anos da pena os deuses até se divertiam, pois viam-no jogar-se ao chão e bater pernas de tanta ira, até que um dia ele resolveu pensar: já que a pedra ia rolar de qualquer jeito, melhor era encontrar formas de se distrair durante o caminho. E foi assim que na segunda, enquanto rolava a pedra grande, ia catando as pequeninas que lhe chamavam a atenção. Encontrou ametista, ágata, rubi e até diamante, vez ou outra achava até metal, um pouquinho de ouro aqui, outro acolá. Foi colecionando. Na terça, rolava a pedra em espiral, na quarta, em linha reta, na quinta, em zigue-zague, na sexta, ao invés de empurrar ia puxando, no sábado, usava variações e no domingo, ao final de cada turno, fazia longas pausas pra ficar olhando a paisagem e se inspirar. Na próxima semana, tudo invertido ou intercalado. E ele foi ficando tão criativo que chegou a um ponto em que os deuses começaram a fazer apostas do que ele ainda poderia inventar. Com o tempo, porém, notando que ao final do trabalho Sísifo divertia-se muito vendo a pedra cair, os deuses foram perdendo o interesse em observá-lo e decidiram que já era tempo de romper aquele ciclo infernal. E ele, embora felicíssimo com a libertação, não deixou a montanha. Tendo-se tornado especialista na região, resolveu ganhar a vida como guia de turistas que pagavam muito bem pra fazer montanhismo, trilha ou outro (dito) esporte radical. E vinha gente de todo o mundo só pra fazer isso. Acho que esse Sísifo (o meu, não o grego) morreu velhinho, saudável, feliz e rico, ainda por cima fazendo o que gostava, sem sentir o tempo passar. Críticos ou céticos de seus métodos pouco lhe importavam, mais valeu o aprendido nos caminhos do que a pedra em seu lugar. Aliás, ao final de todo o ciclo ficou a pedra no meio do caminho, servindo de inspiração a poetas e outros meros mortais.
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