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Cito a seguir alguns divertimentos de minha infância, como uma doce forma de perpetuar estes momentos tão mágicos em nossas vidas. Momentos que passaram tão rápidos que não conseguimos segurá-los, aprisioná-los em nossas cadeias de bambus, que eram para ser uma fortaleza, mas não foram.

O tempo como um ladrão, arrebentou as grades de taquaras, furtou nossas imagens e os sorrisos daqueles momentos e os trouxe com ele para o futuro.

Ainda bem, que arrependido nos deixou pelo caminho em algumas caixas de sapatos, em alguns cantos, em alguns perfumes, em algumas conversas, em algumas fotos, partes desta nossa infância querida.

Camone – brincadeira em que repetíamos as cenas dos filmes de faroeste em que havia a presença de cavalos, bandidos e mocinhos, que assistíamos na televisão. Todos queriam ser os mocinhos, o que era um bom sinal.

O cavalo era precioso, feito de uma vara comprida, com uma corda amarrada na ponta como cabresto. Colocávamos a vara sob as pernas e saíamos correndo descalços pelas trilhas mato adentro ou pelos vastos gramados. As armas eram escolhidas no mato. As melhores tinham uma ótima pontaria e o barulho dos tiros, se escutavam longe, feitos por nossas vozes. E quem fosse atingido eticamente se considerava morto.

Caminhão – as latas de leite eram guardadas com cuidado. Feito um furo na tampa e outro no fundo, eram preenchidas com areia e um arame passado pelo seu interior de furo a furo. Como o arame era reforçado, mais de uma lata era colocada em fila e formava-se uma “carreta”. E com elas andávamos pelas auto-estradas em trânsito mais tranqüilo do que hoje observamos.

Sapato – as mesmas latas de leite ou equivalentes eram furadas somente no fundo e sem nada no seu interior, colocado um arame ou corda desde a lata até nossas mãos. Desta forma podíamos caminhar usando as latas sob os pés. Como ficávamos mais altos, entrava-mos nas poças d’água e atoleiros e não sujávamos os pés.

Viagem ao fundo do mar – usávamos um barreiro para construir o submarino do Capitão Nélson, com toda a parafernália de instrumentos. Cortávamos bambus grossos para fazer o tubo de oxigênio e planejávamos onde era água e onde era o submarino. E criávamos praticamente um teatro.

Perdidos no espaço – Da mesma forma usávamos o barreiro para construir a espaçonave do Dr. Smith e cia., e viajávamos pelo espaço afora.

Folha de coqueiro – aquela parte mais côncava das folhas dos coqueiros era usada como

Um skate moderno ou uma concha onde sentávamos e deslizávamos morro abaixo.

Os tombos eram fenomenais e as risadas, sem parar. Ou um sentava outro puxava. Era puro divertimento.

Cipó – Era Tarzan, o rei das selvas. Nas matas mais altas os cipós desciam dos altos das copas até o chão.

Cortávamos os cipós e nos lançávamos dos barrancos em direção aos grotões, em gritos estridentes.

Nem considerávamos que o cipó arrebentaria.

Lançamento de bombas – cortávamos a parte superior de alguns pequenos arbustos e colocávamos uma lata vazia virada por sobre o caule decepado e o esticávamos até o chão. Depois o soltávamos subitamente. O lançamento era fenomenal. A lata percorria vários metros até cair.

Árvores - um passatempo adorável era trepar nas árvores pelo tronco e descer pelas folhas. Era muito perigoso, mas gostávamos. Outro, como havia muitas goiabeiras

Passávamos de uma goiabeira para a outra sem colocar os pés no chão. E havia aproximadamente umas oito goiabeiras.

Jogar bola – este passatempo parece que já nasceu do berço. Qualquer circunferência

Tornava-se uma bola. Até de pano eram feitas.

Jogar bolinha de “gude” ou “peca”. Este era um divertimento muito “sério”. Era um dos poucos em que havia perdas. Chegava-se a roda de amigos com os bolsos cheios delas e quando íamos embora, cabeça baixa e bolso vazio. Tínhamos aquelas preferidas. “a boa”, a carambola era famosa. Tinha a jogada específica, o “creco”.. Uma batia na outra de raspão. Tinha na corrida, geralmente na ida ao colégio ou na volta Ah e tinha a “bóca”, assim chamado um buraco feito geralmente com o calcanhar onde se não me engano ganhava quem chegava mais perto do buraco e não era abatido pelo adversário.

Pião – neste divertimento existiam verdadeiros craques. Com o uso de uma corda envolvia-se o pião

E lançava-se no chão em giro contínuo e demorado, rodopiando. Alguns chegavam a colocá-lo na palma da mão, inclusive eu, modestamente...

Soltar papagaio, pandorga, pipas – que criança (e adulto) não fica fascinado com este divertimento.

Além de alegre, algo técnico é muito belo, dependendo das estampas. Um divertimento diria quase completo se considerado desde a imaginação de seu artefato, sua engenharia, sua matéria-prima, seu design, seu lançamento, seu equilíbrio, sua performance e seu resgate. Fenomenal.

Arco e flecha – os filmes de época realmente fantasiavam nossos dias. O desempenho dos índios nos filmes de bangue-bangue, também nos entusiasmava. Confeccionávamos arcos ( dos galhos dos pés de café) e as flechas de tiras de bambus.Fazíamos alvos e concursos. Ás vezes machucava as mãos,

Mas sem gravidade.

Carrinhos – Este passatempo também nos entusiasmava. Criávamos pequenas cidades, com ruas, construções e ali circulavam os carrinhos, veículos puxados por corda, geralmente. Não havia os carrinhos à pilha. Os caminhões eram os mais cobiçados, visto que carregavam mais objetos e até os carros pequenos. Carregávamos os caminhões com areia, barro, madeira... Uma verdadeira frota.

Barquinhos de papel – Os dias de chuvas para a maioria das crianças é chato. Para nós era um divertimento à parte. Confeccionávamos barcos de papel, de madeira, o que fosse possível e os lançávamos nas goteiras dos telhados e nas corredeiras d’água pelo quintal afora.

Taco – brincadeira ainda presente em muitos lugares. Com dois tacos formavam-se dois pares e cada qual protegia sua casamata feita de pequenos sarrafos ou outros materiais, com o próprio taco.

Dois protegiam a casamata, os outros dois atiravam a bola em direção a casamata. Se um dos que estivesse com o taco acertasse a bola e a arremessasse para longe, trocava de lugar com o outro que também tinha um taco. Caso um dos pares que arremessavam as bolas, conseguisse apanhar a bola neste meio tempo e acertasse uma das casamatas, pontuaria ou ganharia a partida.

Pingue-pongue – Brincava-se muito, com muitas cortadas, jogadas de efeito e casquinhas. O difícil era

Conseguir uma mesa decente e a bola oficial.

Desenho – Como era um tempo de pouco papel, costumávamos desenhar no quintal da casa. Ali se criava os melhores retratos e a imaginação tomava forma e incríveis feições.

Corrida do saco – Não participei muito mas também era praticada.. se colocava as pernas para dentro do saco vazio e saia-se em corrida desenfreada. Quem chegasse a linha demarcada primeiro era o vencedor.

Luta livre – um pouco (?) mais violenta. Lutava-se um contra o outro. Perdia quem ficasse totalmente incapaz de se mover. Neste momento, tinha que “pedir água” ou se machucaria. Não tenho lembrança

De que alguém tenha se ferido.

Pega-pega – Esta brincadeira era muito realizada nos aniversários, quando se encontravam muitas crianças. Tinha que correr e não ser pego ou tocado pelo sorteado para ser o “pegador”.

Ganhava quem ficasse por último e não era pego.

Quer esse? Não.. Quer esse Sim! O que quer fazer com ele?

Esta brincadeira também era realizada nas festas quando havia mais crianças.

Geralmente envolvia as meninas e os meninos. Todos tiravam sarro, principalmente

Quando alguém queria beijar alguém.. Inocentemente.....rs

Esconde-esconde – Também era muito praticado. Alguém ficava com o rosto virado para uma parede ou tronco e contava até 50 ou 100 e os demais se escondiam. O que procurava tinha que achar os escondidos sem que os mesmos chegassem até seu lugar. Neste caso eles ganhavam. Caso o que procurava encontra-se a todos os outros se livrava de procurar e passava a se esconder.

Pular corda – eram mais as meninas que praticavam. Com uma corda longa segurada pelas pontas por duas pessoas, a mesma era balançada de forma que outra pessoa ficava sob a corda e tinha que pular para não ser atingido pelo movimento da mesma.

Do autor:

Durante um almoço com minha amiga Rita e seu namorado Vilmar, recordamos entre gargalhadas e olhares brilhantes, as travessuras e os divertimentos nos tempos de crianças. A felicidade nada tem de difícil, está nas pequenas coisas e depende apenas de nós nos abrirmos também aos corações dos demais.

Robertson
Enviado por Robertson em 31/03/2012
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