Mulheres de Presentes
Um presente que não esteja bem empacotado, delicadamente embrulhado, não tem graça. Um presente bem dado é aquele que recebe um pacote à altura daquilo que está sendo presenteado.
Às mulheres são exatamente igual o presente. Não adianta chegar direto, querendo logo abrir o presente. Não adianta ficar afoito com o presente; ficar com um ar de surpresa e ansiedade para logo revelar o que está guardado. Não! Assim, elas não aceitam. Se o homem é parecido com o sinal verde, certamente a mulher foi quem inventou o sinal vermelho. Os homens avançam, mas são as mulheres que brecam.
O problema é que ficar ansioso, e chegar de qualquer jeito na moça não é interessante, pois todo presente é enfeitado com um “nó”. Toda mulher é igual um “nó” e aí tá o grande problema, porque nem todo homem sabe desatá-lo. A maioria dos homens, quer porque quer, ou seja, puerilmente vai lá e tenta arrancar o presente de qualquer jeito, pegando à força, e não sabendo delicadamente desamarrar o presente, melhor dizendo: a mulher.
A lição que se tira disso é: as mulheres são como presentes e precisam ser desamarradas cuidadosamente. Tem homens que têm medo de desarmarrá-las e excedem no cuidado. Esses não vão ganhá-las, pois a moça percebe que há medo e quem tem medo não tem coragem. Outros, afoitos, vão querer de qualquer jeito, e vão assustar a moça. Também não serve, pois o desejo é de quem é escolhido, e não simplesmente de quem está escolhendo. Ou seja, dificilmente esse tipo de homem também vai conquistar a mulher. Mas sempre um terceiro tipo, aquele que sabe desabrochar, sabe cuidadosamente enxergar a mulher. Ele a olha por dentro. Ele a vê verdadeiramente e esse, que “foi chegando sorrateiro, e antes que eu dissesse não, se instalou feito posseiro, dentro do meu coração”* é o que sabe realmente abrir o presente. É o que sabe não ser ansioso, e também sabe não ser deprimido. Se for ansioso, a mulher não aceita, pois não sabe “abri-la”; se for deprimido, a mulher desiste. É cuidadoso demais! Aí, fica meloso! Ou seja, o homem tem que ter também a medida certa: nem muito mole, nem muito duro! Tem que ser assim...
*Teresinha. Música de Chico Buarque.