Viagras e Vergonhas
O Viagra está aí. Com a patente quebrada, ficou bem mais barato e mais fácil fazer valer sua força... O consumo só aumenta e as histórias também. Fico com as histórias, pois ainda não estou no levante do consumo.
Outro dia, um cara lá da repartição contou-me que tem prostituta cobrando a mais se tiver Viagra incluído no programa, ela leva na bolsa o azulzinho. Com a metade do Viagra, o preço também é outro, cai pela metade, ele me informou. Mas deixou bem claro que ele ouviu do fulano. Que não tem participação nenhuma no caso.
Tudo bem! Para deixá-lo tranqüilo, contei também a minha história com a pedrinha mágica. Nela, fui o protagonista, apesar de não ter nada a ver com o peixe, digo, a transa. Pra falar a verdade, nem sei se rolou alguma coisa. Mas o certo é que eu fui lá e comprei. Comprei para um amigo, é bom que se diga também. Só não digo o nome dele porque ele é casado com uma distinta senhora riopretana e ele, claro, é um distinto senhor, apesar de um pouquinho canalha. Fato é que o comprimido não seria usado com a sua distinta senhora, mas com uma supimpa menina de programa.
Esta história é do tempo em que azulzinho estava caro pra caramba. Além do preço, ainda tinha outro empecilho para o meu amigo: comprar Viagra em cidade pequena é suicídio matrimonial. Ele, casado e econômico, tinha os dois argumentos mais importantes para me convencer. Tudo bem, topei fazer o favor. Amigo é amigo. Só não queria, porém, passar pelo que passei.
Pesquisar preço, não pesquisei. Fiquei um pouquinho constrangido de sair por aí perguntando o preço desse fortificante. Pois não estou fraco e gostaria que não pensassem o contrário. Então escolhi pela drogaria com fama de bons preços, meti a cara, olhei de rabo de olho, e uma senhora se apresentou com um educado – Pois não, senhor? Engasguei e pedi uma pastilha. Deixei para comprar então no dia seguinte, sexta-feira.
Trabalhei até às seis da tarde e saí apressado para pegar o ônibus das seis e meia. Quase esqueci o favor do meu amigo. Só lembrei quando vi um senhor idoso, como ele, com os olhos pregados no decote de uma menina. A cena me fez lembrar da minha obrigação. Tinha que comprar correndo. Afinal, o sucesso de sua noite estava naquele favor. Sabia que Ele estaria me esperando lá na rodoviária e, como um traficante sexual, passaria discretamente aquela caixinha mágica. Não poderíamos falhar.
Pois bem, entrei na primeira farmácia. Foi aí que uma bela atendente se aproximou com aquele seu belo e solícito sorriso. Então pedi em voz baixa um Viagra. O balcão estava cheio. Ela saiu, olhou dali e daqui, mas não achou nada nas prateleiras. Resolveu então, para a minha vergonha, falar com o colega que estava na parte de cima do estabelecimento. Fulano, desce uma caixa de Viagra aí para mim. Ele perguntou se era caixinha com um ou dois. Aí ela me perguntou e logo falei com um. Com um passou a ser menos vergonhoso, tipo coisa passageira. Tentei amenizar a situação e querendo sair por cima quase falei dá e sobra. Peguei a caixa, paguei, joguei na bolsa e sumi na multidão, estava livre daquele balcão, daqueles olhares...
Chegando em Rio Preto, lá estava ele. Pelo visto era uma espera ansiosa. Quando me viu, abriu um largo sorriso. Saímos caminhando. Passei a caixinha, recebi o dinheiro e seu muito obrigado. Estava feliz e perfumado. Seria uma noite daquelas, falou comigo. Confidenciou que se tratava de uma gata, que o tempo era curto para me dar mais detalhes de suas qualidades. Outra hora ele me colocaria a par dos fatos, ou melhor, das curvas de sua garota proibida. Partimos, ele para o seu encontro amoroso, eu para minha casa. Missão cumprida!
Voltei do fim de semana para mais uma semana de trabalho. Continuei passando pela mesma rua, mas resolvi mudar o passeio. Quando aproximava da farmácia, eu a observava de longe, lá do outro lado da rua. Evitei por alguns dias aquela calçada.
Outro dia, porém, passando tranquilamente na porta da farmácia, vi a atendente conversando com uma sua amiga na porta. Senti que ela me reconheceu com aquela paradinha no olhar. Passei, andei uns metros e voltei de repente pra tirar a prova. Dito e feito, ela estava cochichando e rindo com sua amiga. Claro, estava falando da minha compra. Achei graça e não deixei por menos. Entrei na brincadeira também. Fui em sua direção, pedi licença, e lhe perguntei com a maior cara de pau como eu deveria fazer o uso daquele Viagra que ela me havia vendido há algumas semanas atrás. Aí foi ela quem ficou sem graça e gaguejou um “tome com um copo água”. Insisti na gozação e perguntei sério novamente sobre o tempo para ele fazer efeito, dessa vez ela ficou vermelha e mandou eu ler a bula.
Agradeci e fui feliz pensando na invenção de um Viagra para a broxante vergonha nossa de cada dia.