Os anos vão passando, dizem os malditos calendários, mas a quietude inerente aos vividos não acontece. Chego a pensar que está acontecendo uma regressão. Descubro em mim infantilidades em determinadas atitudes decerto impróprias a uma senhora. Vontade de romper barreiras, de sair gritando meus mais escondidos sentimentos... E me pego falando coisas que iriam bem certamente à boca de minha neta. Vontade de sair em desabalada carreira disputando com as ondas num lamber de pés e espumas, mas meus pés já não são tão afoitos. Traço futuro, na tentativa de não contabilizar o passado, ou como se o tempo tivesse parado, ou talvez eu o tenha estancado. E quando deveria caminhar planície, cá estou eu em busca de precipício. Por vezes esqueço as limitações normais a pessoas maduras e ouso desafiá-las.
Mas, será que precisamos nos encolher, nos tolher, nos limitar com a chegada dos anos?Como, se continuamos a amar com a mesma intensidade da juventude? Acho que meu dispositivo "envelhecer" veio com defeito de fábrica.
De certo, as mudanças existem. Em determinados ângulos, para melhor. Aprendemos com a vida a encarar as tempestades com mais serenidade, aprendemos a desfrutar de maneira mais intensa cada minuto vivido e a aceitar que a vida, o viver independe de idade. Que nos mantemos gente apesar dos calendários. Que venham os dias, que o amanhecer e o anoitecer aconteçam trazendo essa sede de viver intensamente, de aproveitar cada segundo como se fosse o último e comprovar que a vida é digna de ser bem vivida.