LAMBANÇA

Tem gente que pede o silêncio, tem gente que pede a omissão, tem gente que põe a mordaça, e tem gente que por ser assim ou por ter nascido assim, vive a farra do antagonismo. Tem gente que manipula os sonhos e a arte, praticando o amor pelo esporte, o amor ao próximo e tantas outras virtudes. Tem gente que não rouba no jogo, mas olha a carta do adversário (isso não é a mesma coisa?)

Mas tem gente que pede “novidades”, ao invés de “obviedades” ou “fofocas de crianças”.

Tem gente que pede o inédito.

E tem gente que canta: “Brasil mostra a tua cara”.

E o mais grave, tem gente que sabe “escrever corretamente” e não enxerga um palmo na frente do próprio nariz ou, por exemplo, o sentido mais amplo dessa belíssima frase de Cazuza que citei e que sugere: “mostre a tua foto, a tua identidade”

Tem gente que pede educação e bons modos, ao invés de redundâncias; Leite branco, pedra dura, subir pra cima, descer pra baixo. Importantíssimo frisar que é muito mais grave, você escancarar esse tipo de redundância nos comportamentos e atitudes, como muitos fazem escrevendo “corretamente”. Alguns o fazem e com estilo, mas que eu saiba, seus erros são mostrados de forma respeitosa, como por exemplo:

“Vi com meus próprios olhos. "E rir meu riso e derramar meu pranto / Ao seu pesar ou seu contentamento." (Vinicius de Moraes)” Quem ousaria? (rss)

Muita gente não cometeria esse tipo de erro crasso, (acho que nem eu, com minhas distrações imperdoáveis, exceto claro, as que citaram de Vinicius). Portanto, existem várias ramificações ou derivações do termo redundância, que eu diria, são muito mais comportamentais do que erros de grafia. Como por exemplo: Velho (a), barrigudo (a) e baixinho (a), casado (a) mais de uma vez, etc e citando isso de forma pejorativa. Ora, é preferível tolerar um erro de grafia onde esteja embutida sempre a verdade, a alegria de viver, a vontade de expressar idéias e conviver em harmonia, do que agredir as pessoas com preconceitos tolos e redundância embutida (samba de uma nota só).

Respeitemos nossos próprios pais, nossa grande família, nossos amigos do peito, que envelhecem, ficam barrigudos, abandonam suas “Amélias”, bebem, fumam, e até mesmo “aquelas” que deixam de ser “Amélias” para uma doce vingança, porque não? Por isso lá atrás citei Cazuza. Tinha suas “opções” com as quais pessoalmente não concordo, mas tinha também muita classe e jamais desfilaria no bloco das pavonices na Avenida Paulista e com frases de efeito, tipo “tudo a ver” ampliada pela verborragia e/ou logorreia do BBB.

Tudo bem: concordo, e confesso que me espelho muito na coragem de um ótimo Jornalista que temos por aqui, o Batista Custódio (DM) e que devo dizer não foi a principal referencia inspiradora para esse texto e quisera eu poder ter a inocência inspiradora que ele tem no campo dos sonhos e da esperança de vida pós-morte.

Talvez eu fosse muito mais feliz do que sou se é que sou, como céptico. Mas ele tem se mostrado assim, abraçado a causa Kardecista, se arvora em dizer que conversa e lê regularmente “mensagens” de um filho que morreu precocemente. Eu compartilho de sua dor e tenho a sorte de não ter vivido essa experiência, mas não acho que seres humanos mesmo muito sofridos, ou mesmo com muito estoque de ressentimentos, devam ficar a vida inteira “batendo numa tecla só” (aliás, o mau do século praticado pelos jovens gladiadores do Msn) e tentando dar vida aos mortos.

Rosalina Mucci, nossa querida mestra de datilografia (na minha terra natal), um dos anjos da minha vida quando eu ainda tinha meus 10 anos já mostrava isso. Em outras palavras, ou seja, ensinando a perseverar no teclado, ela preconizava “ir além”, aprender a arte de aglutinar, “juntar peças” (asdfg-hjklc) para a indelével arte de comunicar. Ela ensinou-nos, os primeiros passos para o “beaba” da arte de resolver “palavras cruzadas”. Em outras palavras: A guerra do conhecimento. Ela deixou bem claro que a arte da “pesquisa” é apenas um insignificante complemento da arte de criar (frase minha).

Portanto, eu repito: Saber escrever corretamente é muito importante e estético, mas muito mais valor tem aquele que sabe o real significado de cada uma dessas palavras e saiba que muitas delas e tampouco as atitudes que elas sugerem, “são para serem levadas à sério” no que tange ao seu real significado. E por tabela, aqueles que são seus indignos portadores, se anulam.

Assim, e posto assim, alguns amigos de Batista Custódio aqui em Goiânia, por exemplo, reclamam de sua clausura, mas, devem entender que escrever é uma arte, quase uma magia.

As palavras começam a brotar no nosso pensamento e transportá-las para o papel, ou para a ponta dos dedos no teclado silencioso, novo instrumento da psicografia dos sonhos, e é tarefa difícil, que requer um estado de espírito, um momento que irá de encontro a uma chuva de sentimentos. Você pode saber ler e escrever, pode ser um acadêmico, pode saber fazer a caneta deslizar pelo papel, como se estivesse acariciando um corpo de mulher, mas tem que ter aquele momento só seu.

Se esse momento não existir, nada surgirá e a mágica do inédito não acontecerá. Todos nós temos direito a ficar num quarto escuro sem olhar pra nada, ou então bem sozinho em frente a um espelho tentando buscar coisas novas ou buscar o nada. É um estado natural, muito mais até do que “direito”.

Tem gente que é samba de uma nota só mesmo, e vai morrer assim. Não muda, não evolui, não sabe a arte de ser feliz, de fazer amigos ou de compartilhar sonhos e idéias.

Qualquer um de nós faz inimigos deliberadamente; eles se ofereceram e surgem pelos caminhos da vida. Eles cruzam nossos caminhos em busca de uma sombra (para eles). Nas encruzilhadas, eles surpreendentemente estão em todas as estradas que nós escolhemos. E todos eles estão presentes de uma forma ou de outra, nas entrelinhas desse texto que acabamos de ler. Cabe a cada um de nós sabermos onde estamos exatamente inseridos aqui. Mas cabe a cada um de nós principalmente sabermos quais são aquelas pessoas que cruzam o nosso caminho, na base da “roleta russa”, simplesmente pelo prazer de ver o sangue correr na beira dos nossos caminhos ou aqueles que surgem como lobos vestidos em pele de cordeiro..

Por isso, plagiando aquele velho refrão do DETRAN: Todos nós temos que saber dirigir - “Mas não faça do saber, uma arma”. E todos nós temos que ter Amigos, mas que não façamos de cada Amigo, um escudo para as nossas vaidades.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 30/03/2012
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