ASSIM SÃO OS DIAS

Um dia exatamente igual como outro qualquer. O vento, impassível e brando, passeia pelas ruas e dobra esquinas, da manhã incipiente os raios solares espantam o frio, o nevoeiro se foi, desceu para o rio, no rumo dos colégios já seguem as lindas meninas. Esvoaçam as folhas das copas frondosas, uns frutos já caem estando maduros, laboriosas e incansáveis, as formigas vão à labuta. No céu, aglomeram-se centenas de nuvens formando figuras, lagartos se arrastam, os os olhos escuros, a graúna se alegra bicando a fruta.

Farfalham em serena sintonia as borboletas comendo jardins, enquanto, por seu turno, os ternos beija-flores, em êxtase, se enamoram de jasmins. Um bando de pássaros gorgeia intermitente saudando o alvorecer em algazarra, mas no lamaçal dos açudes secando o gado tenta beber a água que não existe, protagonizando uma cena bizarra.

Brotam flores aqui e ali, apesar da chuva escassa, cães e gatos viralatas chafurdam nos lixões da cidade brigando com mendigos e abutres por algum sobejo de alimento emporcalhado para matar a fome no desjejum, contudo os políticos corruptos continuam dormindo em suas mansões compradas com dinheiro roubado do povo, se lixando para os indignados que se ocupam, em vão, em denunciá-los diariamente. As flores, os lixões, os mendigos miseráveis, os políticos corruptos também amanhecem e vem o sol, mas estes últimos usam óculos escuros se protegendo dos raios ultravioletas que cegam os pobres.

Esse novo dia trará outras desgraças e violências, assaltos, homicídios, emoções, tristezas, dores, saudades, recordações, melancolias, amores renascendo, sorrisos fluindo ou se apagando, corpos se amando, mulheres engravidando, patifes da política enricando, beijos roubados ou escondidos, meiguice, raiva, ira, ódio, vinganças, perdões, despedidas e chegadas, feras dilacerando suas presas indefesas, e tudo continuará como sempre foi desde que o mundo é mundo e os seres vivos fazendo de tudo e muito mais para sobreviver. Dói, mas é verdade.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/03/2012
Código do texto: T3583961
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