Deixado para trás
Vi-me observando esse menino. Ele andava tranquilamente, mas a água que passava em seu caminho chamou sua atenção. Era uma água que escorria abrindo seu caminho na terra pacientemente; o menino também iria seguir seu curso, mas não o fez, ao invés disso, parou e com os pés pequenos, descalços e sujos começou a amontoar o quanto de terra pôde no percurso do líquido para pará-lo.
Em primeiro momento não pretendia usar nada além de seus pés nessa tarefa que julgava ser fácil, entretanto a água insistia em prosseguir. Desviava dos obstáculos impostos sobre ela e rapidamente seguia em frente como se ignorasse o menino. Ele, por sua vez, arranjou um galho e o colocou em frente ao curso d’água que passou por baixo de seu empecilho. O menino retirou o galho e observou por alguns segundos a água seguir, então correu para outro canto e pegou uma rocha pesada e larga. Colocou-a em frente à água que, desta vez, não conseguiu desviar com tanta prontidão e demorou-se um pouco a separar-se em dois pequenos cursos, um de cada lado da rocha.
O menino sorriu e sem delongas amontoou com as próprias mãos pequenas montes de terra em frente à água. Esta insistia com dificuldade contra os esforços da criança; mas aos poucos diminuía sua velocidade até parar.
Acumulou-se, então, em uma poça larga contra seus obstáculos que não cederam, não importava o quanto ela tentava avançar. O garoto sorriu e foi embora alegre, esquecendo o acontecido rapidamente.
No entanto, a água não esqueceu, ela persistiu. Depois de longo tempo, ela molhou a terra ali colocada pelo menino, transformando-a em barro e fazendo-a ir consigo ao longo de seu curso. Passado longo tempo, os obstáculos impostos haviam sido subtraídos, lentamente ela seguiu seu curso original. Não importando o atraso, ela conseguiu molhar a semente mais adiante, que depois de anos se tornou uma bela árvore.
Contudo, o menino não o fez, mesmo depois de tanto tempo. Ele cresceu, porém não conseguiu seu objetivo original. Ele mudou seu curso depois de tantos empecilhos e quando estes se tornaram demais, ele parou, mas não tentou continuar.
A água prosseguiu e a árvore cresceu; o menino cresceu, mas não prosseguiu. E assim continuaria até que reconhecesse seus erros e compensasse-os.