A BARATA PERFUMADA.

Três horas da madrugada, a única luz acesa da casa é a sala, estou lendo. Ao acender a luz do banheiro nossos olhares se encontram,pelo menos é essa a impressão que tenho. Será que ela está me vendo? Acho que não, sente somente a minha presença e permanece imóvel. Falo para ela: Hei, não vai dar para você passar a noite aqui no meu apê, e agora?

Permanece imóvel, finge-se de morta. Lembro de G H, de Clarice Lispector e de Gregor Samsa de Kafka e me dá um arrepio.

Sou sonolenta mas não sou doida, não me imagino comendo miolo e nem me metamorfoseando num inseto.

A primeira reação é dar uma boa e certeira chinelada, mas cadê meu chinelo? Esqueci-o na sala e ir buscá-lo daria a ela chance de tentar fugir.

E depois quem me garantia que eu a acertaria? Se eu errasse o alvo corria o risco dela correr para os meus braços, digo pés.

Não poderia fazer barulho, tinha que usar uma estratégia que desse fim aquele diálogo de olhares o quanto antes.

Não sendo comum esse tipo de visita nunca compro Baygon ou similares e precisava de outra arma. Qual?!

Os gêmeos usam um desodorante forte, másculo, AXE!

Silenciosamente miro a invasora e borrifo um jato forte. Ela é resistente, tenta fugir, borrifo outra vez, fica tonta e aí dou o golpe final: Com uma folha de papel higiênico viro-a de patas para o ar. Começa a morte lenta, ela luta bravamente para volta á posição normal, não consegue e morre.

Com o cheiro do desodorante fico mais sonolenta ainda. Vou até á área de serviço pego pá, vassoura,jogo-a no lixo e dou-me por vencedora.

Espero não ter outro combate desses. Não quero terminar como uma serial - keller.

Cientistas chineses dizem que componentes químicos encontrados nas baratas, como a substância tóxica Aflatoxina, poderão ter um efeito benéfico quanto o AZT no tratamento da Aids. Pesquisa já dura 20 anos.

Elas também seriam úteis no tratamento de certas doenças cardíacas.

Os chineses gostam de pesquisar as baratas, de comer baratas..

Não como mais pastel chinês, fiquei com nojo.

Maria Luzia Santos
Enviado por Maria Luzia Santos em 29/03/2012
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