O palhaço da faixa

Em uma faixa de pedestre qualquer desse bairro nobre, próximo ao mar, onde o vento é forte. Próximo aquela areia fina, leve e livre, que é pisoteada por gregos e troianos sem distinção ou preconceito. Por ali havia um palhaço sem maquiagem e sem circo só com o seu nariz vermelho e calças largas. Fazendo malabarismo, e errando os passos na frente dos passantes sem se intimidar. Veículos de variados tamanhos paravam diante dele, talvez não por causa dele, mas paravam. Crianças, jovens e velhos tinham suas risadas arrancadas assim de repente, inesperadamente. Durante os dois minutos no sinal tão vermelho quanto o nariz de plástico, que estava sobre aquele sorriso simpático.

Enquanto olhava para a luz verde sobre os carros que passavam, ele esperava pacientemente. Lembrando-se do tempo de criança, quando olhava da janela do 12º andar, olhando as pessoas que passavam lá embaixo bem apressadinhas. Não entendia nada do mundo, mas achava todas um tanto tristes, desejava um mundo mais feliz. Recordou também da adolescência quando não acreditava em mais nada, juntou todos os remédios e tomou num gole só. Escapou por pouco, mas estava inteiro, nesse momento entendia perfeitamente a infelicidade coletiva. Os carros pararam novamente e ele voltou a sua faixa de show.

Voltando ao acostamento, veio a sua cabeça o momento em que decidiu parar com aquela palhaçada de se matar. Entrou na faculdade de medicina desistiu com um período, o mesmo com artes cênicas e enfim filosofia. Na metade do ultimo curso trancou os compromissos e se retirou da vida urbana, precisava meditar. Depois de muita meditação e de ter respondido a algumas de suas perguntas, criou inúmeras outras interrogações.

Foi então que certo dia foi ao circo que fizera parada por aquela cidadezinha em que fora meditar. Nunca tinha dado tantas gargalhadas, desde que criou consciência do que eram gargalhadas. Após o termino do espetáculo, foi até o camarim e passou por ali horas conversando com quem teve o feito rir tanto. Ele lá estava já sem maquiagem, conversando de igual, dissertado sobre os motivos que o levaram até aquela vida humilde e repleta de sorrisos.

Meditou na sua cama antes de cair no sono para acordar em um novo dia. Tantas foram às exclamações e reticências que surgiram das duvidas anteriores. E essas o levaram até o a faixa sub o sinal, sinal em frente à lanchonete em que me encontro comendo e escrevendo. Onde olho as crianças do meu lado sorrindo, e os velhos que as acompanham também. Entre um pedaço de sanduíche e um gole de refrigerante, me perco nos olhos do palhaço. Que de tão sinceros que são me permitem analisar seu passado. Nele vejo o sonho daquele menino de tornar o mundo mais feliz.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 29/03/2012
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