O PROBLEMA DE DEUS.

Da impossibilidade de uma prova cosmológica sobre a existência de Deus.

Sem questionar Kant, quem sou eu?

E como surgiu essa natureza, tão mal explicada pela ciência, ou melhor, explicada somente nas espécies que não pensam, e sem largueza?

Ainda bem que o formidável Kant foi agnóstico, e sofreu por esse motivo como demonstra seu último opúsculo, ainda considerando suas dúvidas fortemente, como nessa passagem, insatisfeito com suas convicções: “Duas coisas me enchem de admiração e estarrecimento crescentes e constantes, quanto mais tempo e mais sinceramente fico refletindo acerca delas: os céus estrelados lá fora e a Lei Moral aqui dentro”. Era sua consciência mostrando a presença de Deus.

MAS SUSTENTAVA COM O PRIVILÉGIO DE SUA EXCLUSIVA INTELIGÊNCIA:

“Tentar derivar de uma ideia puramente arbitrária a existência de um objeto que lhe corresponda é totalmente contra a natureza e uma simples inovação do espírito escolástico. De fato, essa tentativa nunca seria feita se não houvesse anteriormente , por parte da razão, a necessidade de admitir, para a existência em geral, ALGO DE NECESSÁRIO, (em que nossa regressão pudesse trminar), e se, como essa necessidade deveria ser incondicionada e verdadeira a priori, a razão não tivesse sido forçada, como consequência, a procurar um conceito que satisfizesse , na medida do possível, essa exigência e desse a conhecer uma existência perfeitamente a priori.” Folhas 394, “Crítica Da Razão Pura”. Kant. Caixa alta nossa.

Estamos diante do enfrentamento do tomismo, a muralha da racionalidade aliada à fé, do Santo e filósofo Tomás de Aquino.

Como não podia ser diferente, Kant escolhe aquele mais iluminado para enfrentar no problema de Deus, São Tomás de Aquino, que cristianizou Aristóteles tirando seu Deus de amor da imobilidade, e arremata no seguimento dialético, sic:

“Ora, houve quem acreditasse ter encontrado esse conceito na ideia de um ser soberanamente real, e essa ideia foi, portanto, usada unicamente para obter um conhecimento mais determinado desse SER NECESSÁRIO, sobre cuja existência havia uma convicção. Entretanto, esse processo natural da razão foi disfarçado e, em vez de parar nesse conceito, houve que tentasse partir dele para daí derivar a necessidade da existência, que esse conceito, no entanto, estava destinado a apenas completar. Foi assim que surgiu a infeliz prova ontológica que nada contém da natureza para satisfazer o entendimento natural e sadio, nem tampouco as exigências científicas”. Mesmas folhas e obra citadas. Caixa alta nossa.

Fico com as cinco vias do gênio aquiniano de Tomás de Aquino, a abrangente e explicativa fundamentação escolástica, e não custa citar o festejado Leonel Franca, máxima inteligência, em sua obra, “O Problema de Deus”: “No centro de todos os problemas humanos, inevitável e denso de consequências infinitas, coloca-se o problema da existência de Deus. Questão primordial, em todas as outras influi por essencial, e delas todas as demais radicalmente dependem.”

E por quê?

Responde Adolfo Levi, da Universidade de Pávia, professor de filosofia incrédulo que não conseguiu afastar de si o mundo das realidades, o Absoluto intangível, não podendo de forma alguma descansar nas certezas de suas negações e, confessa: “A minha dúvida é, sobretudo, tormentosa e dilacerante porque me deixa sem resposta em face do drama da vida e da morte, dos problemas da dor e do mal e não me permite afirmar nem mesmo supor que as lutas e os sofrimentos dos seres vivos tenham uma finalidade e uma razão de ser, que a existência possua uma significação e um valor.”

A ciência explica nos seus restritos limites alcançados por seus métodos, explica, mas não totaliza nem pode totalizar suas explicações.

Confissões doloridas como a do filósofo Levi induzem a gigantesca dificuldade que a inteligência mostra como problema primeiro da vida; é questão racional de ordem. Compreende em parte quem exaure o processo cognitivo, de conhecimento puro, sem tocar, contudo, no privilégio incomunicável da Inteligência Infinita, pois não é dado tocar.

Diante do segredo do universo, de seu enígma, que pede uma solução explicativa, a ciência se dobra totalmente incapaz. Deixemos nossas fraquezas passearem nos sonhos se não se resguardam na fé.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 29/03/2012
Reeditado em 22/01/2014
Código do texto: T3582989
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