Jardim de folhas

Não dá mais pra ficar gastando e amassando papel com a frequência que venho fazendo. E, por isso, minha folha está toda rabiscada, esboçada, apagada com a borracha...por vezes refletindo até na vida. Eu deveria mesmo arrumar este caderno e organizá-lo por matérias separadas e precisas: amor, paixão, fantasia, realidade, receitas epistemológicas, seriedade, banalidade, e infinitas outras subjetividades. Eu não quero que, por nada nesse mundo, essas filosofias se embaralhem novamente. Cada qual no seu lugar, nem que seja preciso inventar. E nomes dados aos burros...nome, sobrenome, classe, filo, apelido, codinome, e até posse de terras na minha imaginação. Organizar tudo quanto é pronome em etapas do antes, do agora e depois; cada substantivo e adjetivo em seu tempo e temperatura certa. Mas a intensidade com a qual as encruzilhadas acontecem estão amassando-me os livros e a tinta guache pinta aleatoriamente tudo nos contornos, deixando uma nuance de cores se tornarem brancas e nulas à medida que vagam no centro de minha imagem. O vazio já não mais poderia pertencer-me em dias como esses - nem saberia dizer se agradeço por tal condição. Como é que o NADA pode ser arrancado de minhas pupilas tão inconsequente e repentinamente? Ah, pode tardar, mas não falha. Chegará o dia em que questionarei meu semelhante para desvendar se vale mesmo a pena regar-me as esperanças, deixá-las crescendo incessantemente, para cortar-me o caule e, quiçá, a raiz na melhor hora para aflorar-me. Ora, pois nem chegues perto de minha clorofila, jardineiro infiel que toma para si o arbusto e de nada o esculpe! E nem venha desenhar no meu caderno tuas mudas de planta, quão menos tuas verbenas, porque venho pensando em te afastar com este veneno pesticida.