O SER NECESSÁRIO.
É difícil penetrar na “Critica da Razão Pura”, a catedral barroca de Kant, como dizem alguns, a fronteira das ideias novas de pensar DEUS, a Liberdade, e o Homem.
É o grande salto depois da idade média e seus filósofos-santos e da clássica filosofia. É como mergulhar em um sistema que ao mesmo tempo se apresenta de alta complexidade, mas se expõe com linear clareza de racionalidade. Desse passo temos a “razão pura”.
A filosofia em seu maior objetivo é metafísica, mas Kant iniciou a discussão do “SER NECESSÁRIO”, discutindo DEUS paralelamente à metafísica, e onde se situaria o homem. E ele é discutido junto aos temas religiosos, sociais e éticos. Uma Lei Moral estava a encimar o objetivo.Caixa alta nossa,
“ A Religião dentro dos Limites da Razão”, 1794, coloca o tema religião na mira racional de forma crítica sob sua ótica de princípios. E os defende.
"O Único Fundamento Possível de uma Demonstração da Existência de Deus” contesta o racionalismo de Leibniz, Espinosa e Descartes. Pela “Razão Pura” eram apenas “juízos”.
E Kant se firma nessas convicções, que convido à leitura de quem queira se aprofundar, sic:
“A necessidade incondicionada dos juízos não é uma necessidade absoluta das coisas. Porque a necessidade absoluta do juízo só é uma necessidade condicionada da coisa ou do predicado do juízo. Esta necessidade lógica demonstrou um tão grande poder de ilusão que, embora se tivesse formado o conceito a priori de uma coisa, de tal maneira que na opinião corrente a existência esteja incluída na sua compreensão, julgou-se poder concluir seguramente que, convindo a existência necessariamente ao objeto, desse conceito, isto é, sob a condição de pôr esta coisa como dada, também necessariamente se põe a sua existência, e que este SER é, portanto, ele próprio, absolutamente NECESSÁRIO, porque a sua existência é pensada conjuntamente num conceito arbitrariamente admitido e sob a condição de que eu ponha o seu objeto.
Exteriormente, nada há com que possa haver contradição, porque a coisa não deverá ser exteriormente necessária; interiormente, nada há também, porque suprimindo a própria coisa, suprimistes, ao mesmo tempo, tudo o que é interior. Deus é Todo-poderoso, eis um juízo necessário. A omnipotência não pode ser anulada, se puserdes uma divindade, ou seja, um ser infinito a cujo conceito aquele predicado é idêntico. Porém, se disserdes que Deus não é, então nem a omnipotência nem qualquer dos seus predicados são dados; porque todos foram suprimidos juntamente com o sujeito e não há neste pensamento a menor contradição (KANT, I. Crítica da Razão Pura, A594-595 e B622-23, pp. 501-502).
Diante disso surgia a barreira de provar-se a existência de Deus. Qualquer indagação envolvia e teria como consequência uma Razão Prática, Moral, restando o salvacionismo religioso encarcerado como resultado de uma vida de virtudes e não o contrário. Qualquer teoria contrafeita se reduzia a um conhecimento ulterior de Deus.
Permanece, contudo, a didática racional das "cinco vias" da escolástica de São Tomás de Aquino, enfrentada pelo kantismo, mas de forma sensitiva e natural aceita pelos que divisam a causalidade e o PRIMEIRO-MOVIMENTO, também, NECESSÁRIO E INTRANSPONÍVEL.