O Usual e o Diferente
“...A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois da sua morte...”
Millôr Fernandes
É muito comum o cidadão reclamar do atendimento do pessoal da Segurança Pública (Polícia rodoviária, militar e bombeiros). Foi preciso caminhar pela vida um punhado de anos para entender a razão do não atendimento que se esperava. Acontece que à medida que adquirimos experiência ficamos também mais exigentes. E daí achamos que precisamos ser atendidos no momento que solicitamos ajuda. Sucede que às vezes existem solicitações mais urgentes e isso o pessoal da Segurança Pública sabe. Outro dia um enxame de Abelhas Africanas (Apis Mellifera + Scutella Lepetier) resolveu descansar numa mangueira da minha rua. Exatamente numa época em que lá se encontravam frutos maduros, no ponto da criançada saborear. Fiquei apavorado,conhecedor que sou do perigo que representa um enxame desse tipo de abelha. Procurei o Corpo de Bombeiros, que ocupados, não me atenderam porque eu estava de carro(?). Fui então até o quartel da Polícia Militar. Lá disseram que essa tarefa era do Corpo de Bombeiros. Liguei para o Corpo de Bombeiros e me pediram para procurar um apicultor (do qual me dariam o endereço). Nesse ponto achei que estava saindo de minha função (professor aposentado). Resolvi então FAZER DIFERENTE. Disse que ficaria tomando conta do enxame enquanto eles tomassem as providências. Disseram que poderia haver demora. Pedi, então, auxílio á Guarda Municipal. Disseram que iam ver o que podia ser feito pois não tinham nenhuma viatura disponível no momento. Para não ficar sozinho na posição de guardião de insetos e crianças, solicitei a presença da imprensa. Surpreendentemente a Guarda Municipal apareceu. A imprensa também. Por fim o Corpo de bombeiros com o cobiçado Apicultor. Tudo resolvido embora presente a “confusão” que aprontei. Mas o DIFERENTE acabou dando certo. O passar da idade é que afinal me fez ficar exageradamente exigente.
Certa feita depois de ter seu celular furtado, minha filha caçula ligou para a operadora a fim de cancelar os serviços do aparelho. Não deu certo! A atendente afirmou que deveria ter algum dado errado. Aí ela usou o expediente do Pai. Resolveu FAZER DIFERENTE. Ligou de novo e digitou: “reclamação sobre falta de envio do boleto de contas”. A funcionária atendeu prontamente e depois de conferir dados, disse que estava tudo certinho e que o sistema estava enviando “direitinho” as correspondências. Os dados foram confirmados e tudo estava certo. Disse que outras vias seriam enviadas. E finalmente a pergunta salvadora: “Mais alguma coisa senhora?”. De propósito, nossa heroína aproveitou e solicitou então, o cancelamento da linha o que, de imediato, foi feito.
Tudo isso me fez lembrar um “Causo” narrado pelo nosso querido escritor Luiz Fernando Veríssimo. Certa noite, já lá pelas tantas, ouviu um ruído estranho e pela fresta da veneziana viu que tinha um sujeito forçando sua janela. Com cautela ligou para a polícia que perguntou se o ladrão estava dentro de casa, se estava armado, qual era o tipo físico e mais alguns dados de somenos importância. A seguir a solução pouco satisfatória: NO MOMENTO NÃO TEMOS NENHUMA VIATURA DISPONÍVEL, mas vamos ver o que podemos fazer pelo Senhor. Pode ser que demore... Surpreso, nosso herói desligou o aparelho e ficou pensando... Como escritor tem o hábito de pensar rapidamente, resolveu FAZER DIFERENTE. Pegou o aparelho e ligou novamente para a Polícia: Olha sobre aquela solicitação que há pouco fiz, quero cancelá-la. Com uma escopeta calibre 12 que tenho em casa, dei um tiro no ladrão que teve sua barrigada pregada no muro. Tá morto!!! Quando vocês puderem venham fazer o levantamento do corpo. Qualquer coisa me chamem. Agora vou dormir e amanhã me levanto tarde... Mal colocou o aparelho no gancho já ouviu o ruído do motor de um helicóptero com potentíssimo holofote aceso, uma viatura do Resgate, sirenes de viaturas ( eram 8), 1 Tático móvel, uma estação volante de TV e uma equipe dos Direitos Humanos, que afinal não podia perder a oportunidade. Perplexo e surpreso o ladrão foi preso em flagrante e ainda conseguiu balbuciar: “...orra meu! Num sabia que esta casa era do Comandante do Exército!!!”. E já nos “finalmentes” o comandante da PM, voltando para o dono da casa afirmou: “... o senhor mentiu!!! Não disse que tinha matado o cara???” “...sim, mas o senhor também não disse que não havia nenhuma viatura disponível???” (oldack/14/02/012).