A QUEM FOTOGRAFEI?

Hoje resolvi lhe fotografar. Mas que pretensiosa eu sou... É ...,mas sou assim mesmo , gosto de ousar , gosto de acreditar em mim e nas minhas impressões.

Olhei pra você e enxerguei um garoto , que nas manobras radicais de um skate derramava todos os medos guardados,rapidamente, no mesmo impulso das rodas deslizantes, quase asas, para que ninguém olhasse para esses medos.

O sorriso?era inocente... trazia a sua criança com cara de culpada por ter se arriscado numa travessura tão lindamente infantil..

Nas mãos trazia um livro, acho que era do Monteiro Lobato, mas tinha páginas prematuras da Clarice Lispector...

Essa criança me segredou que vivia num mundo de faz de contas, e que disso era feito a beleza do seu sorriso, mas disse-me também que estava sendo chamada a sair dessa sua promessa de felicidade, e que isso lhe trazia angústia.

Bom, mas o sorriso continuava, a linda inocência fluía, fluía...E quando a culpa infundada surgia o silencio se fazia...

Estava assim lhe olhando com esse meu jeito de quem busca transparência e de repente avistei em você um velhinho de cabelos esbranquiçados de fala mansa e educada, pleno conhecedor do que tem importância nessa vida!

Esse velhinho era contraditoriamente jovem, leve, repleto de respeito pela vida e pelas pessoas. O meu olhar era de admiração, carinho... Ouvi todas as sábias falas dessa luz e cresci anos luz...

Quando estava ainda em plena divagação do docinho que é viver, olhei pra você e lhe vi vestido num paletó , se sufocando numa gravata preta que lhe tirava o ar infantil e a sabedoria

Desesperada lhe procurei e não lhe achei.Aquela roupa tinha abrigado e escondido de novo todos os seus medos, e você não podia andar de skate vestido assim... Será que sou eu em você? Veste uma roupa mais leve e vamos os dois andar de skate?, também tenho medos...