NO ÔNIBUS

Já vi quase de tudo em ônibus. Uma vez viajei do Pará ao Rio Grande do Sul no mesmo ônibus. Quase uma semana de viagem. No final parecia que éramos da mesma família. Outra vez, o ônibus estava tão cheio que pelo corredor estavam espalhados sacos, malas e pessoas. Daí, quem sentou-se ao meu lado estava com uma criança de colo, um bebê ainda. No balanço do ônibus a criança enjoou. E vomitou. Nas minhas pernas. Minhas roupas estavam na mala no bagageiro em baixo. Só pude trocar de roupa quando o dia amanheceu. Minha calça já havia secado. Ontem sentou-se um camarada que estava com muito sono. Vez e outra vinha para o meu lado. Não bastava cutucá-lo, empurrá-lo. Na próxima mergulhada lá vinha ele. Dias atrás, um sujeito buscou um lugar disponível no ônibus e só havia um, ao meu lado. Sentou-se. Abriu a moxila e tirou de lá uma vasilha com alguns sandubas. Até aí tudo bem. O que aconteceu depois me indignou muito. Ele parou de comer e olhou para mim. Disse o seguinte: "Você poderia ir mais pra lá, se ajeitar melhor para eu poder sentar direito?" Pensei em lhe dizer: "Claro, vou pedir ao motorista para parar um pouco e eu vou pendurado do lado de fora". Mas o que mais me impressionou, foi quando viajava de São Paulo para Maringá. Quando passamos por Castro, uma moça que havia embarcado em Itapeva e sentara ao meu lado, ao se despedir e descer me deu um beijo na boca. Para um adolescente aquilo anulou qualquer problema da viagem, inclusive o estravio de uma das malas da minha irmã.