Ainda que o tempo passe...

Diego olhou nos olhos de Ana e, citando Fernando Pessoa, falou:

– “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”.

Ela, menina, atrevida que era, sorrindo, apenas respondeu:

– Que bonito! Como devo entender esse verso lindo?

Diego, que, perto dela, sempre ficava desconcertado, ficou sem palavras (mais uma vez!).

Ana e Diego já se conheciam há alguns anos, e mesmo depois de tanto tempo sem se verem, ela continuava a provocar nele essa falta de jeito (ou seria de ar?). Mas era sem querer... Isso ela jurava.

Então para não deixá-lo ainda mais sem graça, ela disse a ele que não precisava responder e, quase partindo, agradeceu pelos belíssimos versos.

Acontece que Diego não queria ver o assunto morrer – nem sua estrela mais uma vez se esconder – encheu o peito de coragem e disse a sua querida e amada amiga:

– Talvez seja um "grito" de um cara que se perde nos seus próprios pensamentos... Enfrenta os medos e se desnorteia em seu vício, pois sabe que seu sonho é algo impossível...

E logo após falar emendou em uma conversa sem sentido.

Ana, meio atônita (mesmo já suspeitando da resposta) quis ouvir de Diego qual era o misterioso segredo.

Mas ele apenas respondeu que seria como voltar a um passado não muito remoto.

Ah... A cabeça de Ana encheu-se de boas lembranças...

Memórias de uma época que não cabem mais no presente.

Foi então que pela primeira vez a menina ficou sem palavras diante daquele rapaz tão doce...

E, decidida, deu-lhe, na face, um beijo, mostrou-lhe mais uma vez seu lindo sorriso... E, em seguida, partiu.

(Lívia Antunes)