Quando Começa Errado...
Ontem foi um dia daqueles. Não havia nada pela manhã que indicasse uma diferença gritante. Mas ela existia, pulsava e ninguém a percebeu. Ou talvez não devesse ser percebida, apenas vivida.
Da alta temperatura nada restou. O vento frio fez com que as crianças agasalharem-se para ida à aula. As pessoas olhavam os céus pressentindo a chuva que finalmente cairia.
Ao abrir as portas e janelas de casa deixei o vento levar o dia anterior e trazer novas energias. Escrever às segundas é quase inviável.
Meus bichinhos a serem tratados já reclamavam meu pequeno atraso.
Entretida com meus afazeres assustei-me com a campainha no portão. Uma senhora, digo senhora mas talvez não passasse dos quarenta anos. Nem bonita, nem feia, um pouco acima do peso.
Educadamente perguntei o quê queria. Numa voz rude anunciou ser a vizinha ao lado, a qual conhecia só a voz pelos gritos com os filhos e marido. E a truculência com que os trata.
Olhou-me de cima à baixo. Tudo bem, não costumo fazer faxina como se fosse a um passeio. Mas isso me irritou. Não satisfeita, perguntou-me pela "dona da casa". Mais irritada fiquei com sua falta de tato e indiscrição, pois fosse eu a faxineira, mereceria também respeito. Por um momento fiquei sem saber o que responder. Confesso que pouco falo com vizinhos ou estranhos, é da minha natureza preferir o isolamento. Mas ponderei, isso tudo em minutos, respondi que moro aqui e portanto a "dona da casa".
Nenhuma desculpa proferiu a senhora, perguntou-me se alguma correspondência teria sido entregue errado em meu endereço, ao que respondi, não. Sem agradecer ou se desculpar foi embora.
Fiquei a pensar em como as pessoas apegam-se às aparências e em como catalogam seus proprios interesses de acordo com o que pensam que veem e o que desejam ver.
O dia seguiu numa sucessão de erros e estragos. Uma tomada ligada errada findou com o funcionamento do freezer, uma roupa esquecida no varal a banhar-se na chuva lembrou-me que preciso comprar mais um uniforme para minha sobrinha. Um sagu que não vingou, o chuveiro que não esquentava, uma de minhas cadelas doentes e assim por diante...
Decididamente, era melhor não insistir em ir contra a correnteza.
Sentei-me a ler algumas coisas no pc para me distrair. Pronto, coroado estava meu dia. Computador travado, windows comprometido. Sem boot, sem acesso.
Desisti, tomei um banho frio, enfiei-me na cama mais cedo.
Hoje? Hoje nenhuma visita indigesta pela manhã, consegui reinstalar o windows após o almoço... É, foi um bom começo.