Povo Burro, Governo Feliz
O desrespeito à imprensa num país que se diz democrático demonstra o que a corrupção é capaz de fazer, principalmente no nosso querido nordeste, abastado não de recursos e sim de políticos mal caráter.
No programa CQC da rede Bandeirantes, exibido dia 26/03/2012 foi feita uma grave denúncia sobre o desvio de recursos públicos, envolvendo a Assembléia Legislativa Alagoana.
O repórter do programa, em vários momentos abordava parlamentares, perguntando sobre o desvio de 5 milhões de reais, destinados à construção de uma biblioteca e de uma escola.
A reportagem já começou apresentando dados negativos do Estado, como “maior índice de analfabetismo, maior índice de pobreza” do Brasil.
Foram entrevistados os deputados João Henrique Caldas, Joãozinho Pereira, Marquinhos Madeira e Marcelo Victor. Todos falaram sobre o sumiço dos recursos liberados pela Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de Alagoas para construção da biblioteca e da escola, além da falta de materiais básicos no Legislativo, como, acreditem, papel higiênico.
Segundo os entrevistados, toda esta responsabilidade caberia à mesa diretora, pois ela era a responsável pela administração dos recursos.
Ronald Rios (CQC)
-É a Mesa Diretora que tem que dizer como o senhor limpa a bunda?,
Joãozinho Pereira (Deputado)
-Não. O banheiro do gabinete é de responsabilidade do deputado. E você pode ir no meu para ver que não falta nada.
Ronaldo Rios (CQC)
-São os piores políticos do Brasil?.
Joãozinho Pereira (Deputado)
Não. Existem bons políticos em Alagoas, como existem os que não prestam.
O desvio de R$ 300 milhões dos cofres do Legislativo, investigado pela Operação Taturana, da Polícia Federal, também foi lembrado pelo repórter.
-É inexplicável. Em Alagoas, algumas leis não são aplicadas, disse um deputado.
Questionado sobre seu indiciamento no inquérito resultante da Operação Taturana, o deputado Timóteo Correa fingiu surpresa:
-Acusado? Quem disse?.
Ronaldo Rios (CQC)
-Ora, o senhor foi indiciado.
Agora, caros leitores, pasmem com a declaração do ilustre deputado Timóteo Correa.
-Os deputados aqui usam a verba de gabinete para comprar votos?
-É para ajudar as pessoas. Aqui no Nordeste o político compra votos.
Então o repórter perguntou.
-O senhor já comprou voto?
-Já, mas comprar é um termo muito forte, porque é uma ajuda às pessoas das periferias. A gente ajuda as pessoas com o dinheiro.
“Obrigado pela sinceridade”, disse o repórter, abraçando o deputado.
Após tais declarações, o deputado foi denunciado ao Ministério Público Eleitoral, o qual já cobrou esclarecimentos sobre a tal compra de votos.
Mas o episódio não terminou por aí. Mais adiante, a reportagem mostrou uma nova abordagem, ao anteriormente entrevistado, deputado Olavo Calheiros, irmão de nada menos que Renan Calheiros, lembram, aquele ilustre senhor, acusado, em 2007 de receber recursos da empreiteira Mendes Jr., por meio do lobista Cláudio Gontijo, para pagar pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento.
Ronald Rios, "seguido" pelo repórter do CQC tentou agredi-lo com um soco, dentro do plenário da Assembléia, após ser sabatinado sobre o desaparecimento dos R$ 5 milhões.
-Filho da puta. Isso é um vagabundo”, disse Calheiros depois do soco. Ronald Rios (CQC), ironizou a atitude. "Vou passar no RH e pegar um plano de saúde bom".
Isto é o retrato do descaso que as pessoas, as quais elegemos com o dinheiro tão suado dos impostos que pagamos.
Casos como estes, de corrupção explícita (até porque nem quiseram disfarçar, fazendo uma biblioteca meia boca), no qual os parlamentares assumem abertamente que nos roubam.
Mais lamentável ainda, sendo isto feito em um Estado, onde de cada 4 pessoas, três são analfabetas. Talvez isto explique por que tais ladrões (me refiro apenas ao ladrões, pois talvez ainda haja políticos honestos neste país) estão no poder e por que deixaram de fazer uma biblioteca e uma escola, afinal "Povo burro, governo feliz".