À flor da pele

À flor da pele

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

DUAS AMIGAS AO TELEFONE:

- Chegou ai, amiga, a encomenda que mandei pra você?

- Encomenda? Que encomenda?

- Uma lembrancinha que enviei pelos correios. Tem uma semana...

-... Até agora, por aqui, não chegou nada.

- Estranho! Postei com AR. Já era para estar em suas mãos... Verei depois pela Internet, no site da agência, por onde anda o bagulho...

-... Tudo bem, amiga. Não precisava se dar ao trabalho. O que comprou?

- Sabia que iria perguntar. É surpresa!

- Fala amiga. Entre nós não deve existir esses protocolos.

- Eu sei. Compreendo. Mas veja só. Não teria graça. Quando chegar você poderá matar a curiosidade e se deleitar.

- Ao menos dê uma pista. É de usar ou de comer?

- As duas coisas. Como te conheço de velhos carnavais, você amará tanto que, tenho certeza, engolirá até o caroço, digo até a caixa...

- Matei a charada. Claro! Que mais poderia ser? Você me mandou bombons. Sabe como sou tarada por chocolates. Realmente, amiga, neste caso, nem a embalagem escapará. Sem contar no papel do embrulho...

-... Espero que não faça como da ultima vez em que lhe fiz uma graça e você usou o papel do presente no banheiro. Não direi nem uma palavra. Contudo, lhe asseguro, não é uma caixa de bombons.

- Que sacanagem! Resolveu me tirar? O que ganha tentando acabar comigo? Quer me matar? Ninguém melhor que você sabe do meu problema. Não posso ficar nervosa ou desassossegar o coração com a curiosidade. Dá uma coceira dos diabos. Lembra da ultima crise? Cocei tanto, tanto me cocei que você mesma teve que me levar carregada para o hospital. Recorda dos ferimentos que provoquei por todo o corpo em decorrência de meter as unhas na pele até sangrar?

- Como poderia esquecer amiga! Foi horrível. Lembro perfeitamente de tudo. Pela nossa amizade, lhe peço: tenha calma.

- Como calma? A propósito, acredita que já estou me coçando todinha? Daqui a pouco arranco os cabelos da bo... Desculpa, da perereca. A bichinha parece em carne viva. Literalmente me pareço ardendo em fogo... Desembucha... O que foi que me mandou? Um bombeiro com a mangueira pronta para espirrar água?

- Relaxe... Nada de bombeiro.

-... Pera ai amiga. Dá um segundo.

- O que aconteceu?

- A coceira... Estou toda empolada... Ai...!!!!

-... Fique calma. Respire fundo. Toma um copo de água com açúcar.

- Vai catar coquinho. Estou calma. Eita nós! Que merda!

- O que desta vez?

- A portaria resolveu me atazanar as idéias. Alguém interfonando... Aguenta ai. Vou ver quem é.

CINCO MINUTOS DEPOIS:

- Que coincidência! Se tivéssemos combinado, não teria dado certo. Chegou amiga. Caraca...!!!!

- Finalmente...

- Seu Flávio aqui do condomínio acabou de me entregar. Obrigada. Nossa, que legal. Fiquei feliz, apesar da coceira...

- Abra logo. O que está esperando, mulher?

- Ai...!!! Não consigo me conter... Deixarei pra desembrulhar mais tarde. A coceira, amiga, a droga da coceira aumentou demais... Foi a ansiedade... Você me deixou agoniada. Acho que vou... Acho que vou...!!!!

CLIC:

- Alô... Alô... Alôaaaaaa...!!! Filha de uma égua mal agradecida: desligou na minha cara!

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 59 anos é jornalista

Contatos:

aparecidoraimundodesouza@gmail.com

Secretária

MSN

carinabrattistoegente@hotmail.com

Aparecidoescritor
Enviado por Aparecidoescritor em 27/03/2012
Reeditado em 26/05/2020
Código do texto: T3578648
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.