Em Nome do Pai

Esta crônica não objetiva atacar nenhuma religião específica e sim alguns homens que em nome da fé se enriquecem ilicitamente.

Recentemente, a grande mídia foi palco de acalorada discussão envolvendo dois religiosos que trouxeram à tona conchavos políticos e até mesmo uso ilegal de dinheiro proveniente de dízimo. Uma fúria generalizada invadiu a rede mundial de computadores com foices e facões. Sodoma e Gomorra renasceu em nome da fé, de Deus e do Amor Maior. Senti-me na Idade Média e por pouco ainda não encontro no estoque das lojas algum escudo romano ou uma catapulta portátil.

Brigar em nome de Deus é o mesmo que beber em nome do fígado. É o mundo acordar pelo avesso, com o Bolsonaro promovendo liberdade sexual e o sertanejo universitário oferecendo letra original. Eu achava que esse papo do mundo estar perdido era coisa de idoso saudosista, mas estou curiosíssimo com o andar das coisas, de trás pra frente. Ano passado presenciei time rival auxiliando o outro na última rodado do Brasileirão.

Não querendo perder nem um segundo deste momento ímpar da humanidade, resolvi dar uns passeios rurais para quem sabe flagrar alguma loucura da natureza. Pelejei pra encontrar um cachorro-do-mato copulando com tucano, alguma lagartixa ou quem sabe uma tilápia? De repente um rio subindo morro ou um tubarão hipertenso abandonando a água salgada e vindo parar em algum corguinho do cerrado. Deu fome no meio da caminhada e subi no pé de goiaba atrás de alguma manga rosa ou araticum. Infeliz na tentativa, peguei um caniço, limpei-o, amarrei um cipó e fui pescar sem isca nem anzol em uma poça d’água.

Inconformado com mãe natureza, recorri ao meio urbano. Ainda faminto, cheguei à farmácia, em busca de algum sanduíche ou coisa que o valha. A moça meio que sem entender me encaminhou a uma lanchonete. Observei a aliança na mão esquerda da balconista e investi, de certo era solteira. Quase não deu tempo de fugir do dono do estabelecimento e pai de dois filhos da atendente.

Voltei pra casa mais perdido que cachorro em caminhão de mudança e sem entender o que estava acontecendo com o mundo. Dois sujeitos brigando em nome de Deus por poder em arrecadação de dízimo e angariações de votos, sendo tributariamente imunes e lidando com a fé alheia como coisa secundária é tão contraditório quanto pagar pra trabalhar ou matar em nome da paz.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 27/03/2012
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