CREPÚSCULO

CREPÚSCULO

Na eternidade dos nossos sonhos, o silencio ou a invisibilidade não incomodam tanto. A chegada ao destino da viagem com tempo marcado apenas nos deixa agitados, inconformados.

O tom lúgubre do por do sol camufla com um cinzento bronzeado a beleza da primavera.

É como se o destino mostrasse ao longo de uma estrada que pode ter chegado o momento do não amanhecer. O ser humano habita dois estados simultâneos, o da pascacice e o da indignação. Os mais inteligentes sabem da inutilidade da inconformidade. Outros habitam o mundo obscuro da fé. A saúde e a prosperidade dessa forma ficam interligadas ao destino e à fé, formando um triangulo maluco, sem pé e cabeça. E nesse período do ano, por coincidência, o canto das cigarras exibe de forma espetacular a guerra dos sexos, um barulho infernal em que a natureza escancara e exibe o maior espetáculo do mundo, a da multiplicação, o inicio da vida e simultaneamente a morte.

Reações humanas são meras demonstrações de vontade de mudança de trajeto, ou o resultado do nosso desespero e da nossa arrogância. Reagimos e nos agredimos uns aos outros, seres humanos que somos e assim nos definimos como combatentes e guerreiros inconscientes contra uma causa comum, a morte, que não se agiganta, pois tal decreto nos é imposto individualmente.

.

Grupos fechados, de comportamento padrão se aglutinam numa sala de segurança, ou gaiolas de humanos genéricos padronizados ou não e aguardam submisso um destino imposto. Funcionam como flores sensíveis que se fecham ao menor toque. Possuem o instinto canino: Se acariciados, correspondem. Se agredidos ou não satisfeitos em seus instintos de sobrevivência, mordem e atacam. Impressionante é que os inimigos declarados são mais fáceis de se lidar com eles. Eles mostram os dentes e você reage, “dá um bico” e enfim, ficam sob controle.

Somos parte de um destino traçado, imposto e algumas brechas nos permitem descobrir alguns atos de prorrogação ou de desvio, nessa caminhada. Muitos escrevem, muitos falam, muitos dizem nada e assim talvez o mundo seja daqueles que ainda não residem nos lóculos, mas se comportam como se neles estivessem enterrados. São fantasmas que não incomodam, mas vivem em nossas lembranças.

Nossas experiências de vida requerem a sua presença e quando não estamos “engaiolados” estamos sujeitos aos seus ataques. São úteis porque são visíveis, reconhecem a nossa presença. São melhores que muitos amigos que apenas nos observam de longe, na “calada da noite” ou se manifestam ou se dizem sempre presentes, mas de forma impessoal. Não mostram a cara, não postam fotos, respondem os e-mails de forma resumida, com poucas palavras, enfim, não se revelam e preferem ficar no anonimato.

A natureza é composta de impactos violentos ao mesmo tempo em que rege a orquestra suave dos

resultados que vão se desdobrando em cadeia. É uma corrente quase que imperceptível, mas bem simétrica e cíclica de ondas de acontecimentos e transformações. Todos os choques de opiniões são úteis. Não há vencidos e vencedores, embora de forma invisível pra uma das partes, a verdade ou a mentira tenha prevalecido.

Existe uma fogueira de vaidades para queima de energia. Esses pólos de energia positivo e negativo não são necessariamente equivalentes às alegrias e tristezas, bondade e ruindade, certo ou errado, mas formam a orquestra de tudo que conhecemos ou não na natureza, regida pelo guardião invisível, que muitos criam em sua imaginação para se auto definirem.

A verdade, portanto, não está em cada um de nós. Idéias pensamentos atitudes formam ao longo do tempo camadas e as novas gerações vão descobri-las no futuro como idéias fossilizadas ou não e todo esse acervo vai gerar conflitos em cadeia e assim os humanos caminham para uma espécie de período de infelicidade generalizada que em determinados momentos explode em guerras entre povos e nações inteiras, dando-nos a triste impressão que o auto-extermínio reside em nós e somente pode ser contido com antídotos contra comportamentos agressivos, mas que ainda não são conhecidos. Somos partículas de um laboratório de experiências gigantesco, mas temos também cada um de nós a sua pequena sala de experiências dolorosas e gratificantes ao mesmo tempo.

Somos todos assim, perdidos no espaço, existindo aqueles mais efervescentes que saem das ditas camadas “pré-sal” para fazerem a humanidade implodir no riso ou na tristeza, na plena ignorância ou na plenitude das descobertas cientificas. Em ambos os casos, a morte é retardada pela atitude subversiva contra o que parece “estar escrito”. Mas a cobrança vem de forma cruel e a natureza fatura implacavelmente no atacado e chacoalha o esqueleto do planeta terra, dizimando populações inteiras. Difícil admitir, mas parece existir uma correção automática da natureza quanto a nossa resistência em prorrogar a vida. O erro da natureza, eu diria cristalino, está em fazer correções quantitativas, quando o correto seriam correções qualitativas.

Mas admitir essa racionalidade, seria admitir a existência de um grande arquiteto.

Existem muitas frases feitas que rolam por aí, de autoria desses habitantes dessas gaiolas de comportamento padrão e você não consegue contestar suas superficialidades e nem tampouco estabelecer contato. Tentei, e a resposta que obtive foi um não e o comportamento deles é mais ou menos igual o daquelas flores sensitivas e dormideiras, cheias de “não me toque”.

Estou cansado disso, anuncio aqui o fechamento de meu laboratório. Continuarei escrevendo e continuarei dono das minhas verdades, mas comunico uma atitude ousada. Não farei mais das “minhas verdades”, uma arma. Acho que fiz algum progresso. Aprendi isso com os meus inimigos declarados e com o silêncio cruel dos meus melhores amigos..

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 26/03/2012
Reeditado em 10/06/2012
Código do texto: T3576899
Classificação de conteúdo: seguro