Sabores de um Café a Dois

Marcamos um café para relembrar velhos tempos, e o dia chegou... os movimentos da metrópole agitam carros e pessoas, buzinas e sons de correria em meio à vida agitada, que corre para não perder tempo.

Vou de metrô achando que poderia chegar mais rápido... ledo engano: a plataforma está lotada, em direção ao Tucuruvi, e a demora do próximo trem me convida a desistir. Volto e subo às escadas, vou a pé e sei que chegarei mais rápido. Atravesso as catracas da Estação Sé do Metrô, cruzo a Praça da Sé e caminho pela Rua Boa Vista, aquela dos agitos da Bolsa de Valores, e não posso deixar de lembrar a força do café nos investimentos do país.

Passos rápidos mas um mendingo acha que tenho dinheiro e estende sua mão, mas acaba dando um "joinha", como se concordasse com a minha pressa de chegar ao encontro.

O Girondino está quase vazio, e procuro logo um toillete para lavar as mãos, passar uma água no rosto e me refazer da caminhada. Estou atrasado mas "ela" ainda não chegou. Pensei: vou tomar um café enquanto aguardo sua chegada.

O toillete do Girondino fica num segundo pavimento, é preciso subir algumas escadas para acessá-lo. Na saída, volto ao térreo e vejo-a, de costas, já no caixa, pagando o café. Sem qualquer palavra, ela se volta e me vê, sorriso largo e nos abraçamos em um aconchego forte e intenso. Ela logo me diz: "você não mudou nada, tá do mesmo jeitinho! rs" E ainda me reconheceu de costas!

Fico feliz por vê-la tão gata, linda e bem cuidada e com um sorriso lindo, de alguém que pude rever agora, 32 anos depois.

É dia da água, poucos se lembram desse dia tão importante para a humanidade, e junto com os dois cafés, vem um garrafinha de água com gás.

Subimos para o mezanino procurando uma mesa tranquila, para a conversa que vamos ter depois de tanto tempo separados pelas decisões do destino.

Não consigo deixar de mirar aquele sorriso fácil, os olhos firmes que me olham com carinho, e sua elegância de sempre, de salto alto.

Logo nos abraçamos novamente e vamos aos poucos saciando nossa curiosidade por tudo que aconteceu nesses longos anos de distância.

Não consigo acreditar no que está acontecendo, e por vezes me pego absorto, de olhar paralisado, olhando aquela pessoa à minha frente.

..... continua