RUA 25 DE MARÇO
Para entender a Rua 25 de Março é necessário vivê-la intensamente, é necessário passar um dia inteiro circulando por lojas, entrar na galeria Pajé, subir os doze andares de elevador e descer a pé pelas escadas passando loja por loja, visitar o shopping 25 e observar a multidão comprando e pesquisando preços.
Em 1.998 comecei a vender cartões de visita na Rua 25 de março e nas primeiras horas da manhã lá estava eu com meu mostruário de cartões, uma lanterna para iluminar os pedidos, pois quando era horário de verão, ainda estava escuro.
Descia no metrô São Bento, atravessava a praça, benzia-me diante da Igreja São Bento, pegava um pedaçinho da Rua Florêncio da Abreu e descia a ladeira Porto Geral e lá estava eu no meu escritório a céu aberto.
Confesso que no primeiro dia fiquei um pouco assustado, mas com o passar do tempo fui acostumando com o pessoal, pessoas maravilhosas, sofridas, quem montavam suas barracas logo nas primeiras horas da madrugada e passavam lá na Rua Vinte e Cinco de Março doze e até quinze horas das suas vidas.
Vendia meus cartões de visita para os camelôs da Feirinha da madrugada e era muito engraçado quando existia o tal do “RAPA” que era o pessoal da Prefeitura que vinha verificar os camelôs que estavam ilegais vendendo seus produtos. Aí era um corre-corre danado e eu acompanhava meus clientes, ajudando-os a carregar pesados plásticos cheio de brinquedinhos, perfumes e outras mercadorias que eram esparramadas pela rua, afinal tinha que vender meus cartões e até avisava quando o rapa estava aproximando e os camelôs agradeciam e faziam os cartões comigo.
Muitos camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março eram pessoas que vinham do nordeste do Brasil e das experiências que tive foi o prazer de nunca ter recebido um “calote” de nenhum comerciante, eram todos honestíssimos, quando não tinham dinheiro suficiente para pagar os cartões, o que era raro, eles emprestavam de um “conterrâneo” e estavam sempre de bom humor, pois tudo era festa, com chuva, com Sol, sempre estavam a sorrir, às vezes de alegria em ter vendido muito outras vezes de tristeza, mas sempre de bom humor com todos e sempre fazendo algumas piadinhas que era para quebrar o gelo e a sisudez de alguns clientes.
Garanto que muitas vezes é necessário um pouco de sorte, além da nossa capacidade de persuasão e garanto que tive muita sorte, pois uma das minhas primeiras vendas foi feita para o Senhor José, um camelô que vendia alguns colares, brincos e pulseiras de pedras de todas as cores que vinham de Minas Gerais e estava trabalhando na Rua Vinte e Cinco de Março fazia uns trinta anos, então ele conhecia quase todos os comerciantes e assim foi apresentando-me um a um e meus cartões eram comercializados com alguma tranquilidade e lá pelas dez horas da manhã já tinha vendido de dez a quinze mil cartões para os camelôs.
O tempo foi passando e eu fui conhecendo várias pessoas da Rua Vinte e Cinco de Março e até já era conhecido como o “Rei dos Cartões”.
A vida começava a melhorar, os negócios iam de vento em popa com as vendas dos cartões e foi quando observei dois garotos vendendo bonequinhos do Pikachu que soltavam bolinhas de sabão, não tive dúvida, larguei a venda dos cartões de visita, comprei mil bonequinhos e fui vendê-los nas praias de Ubatuba até Santos.
Mas a saudades ainda existia e tempos depois voltava a Rua Vinte e Cinco de Março como “comprador” e ficava imaginando como era gostoso aquele tempo que saia as quatro e meia de casa, na zona Leste de São Paulo e passava um período entre os maravilhosos camelôs da Rua 25 de Março.
Parabéns Rua Vinte e Cinco de Março, o maior centro comercial a céu aberto da América Latina e obrigado por permitir que eu passasse um período maravilhoso entre seus clientes e camelôs! Muitas saudades, muitas boas recordações! Obrigado!