Espelho
Não aprendi ainda a arte do amor. Tudo que não se faz na vida, uma hora, a vida cobra. Se a mulher for bonita, mas muito tímida, e nunca teve oportunidade de paquerar: sempre viveu atenta à vida de um homem específico, uma hora, pode a coisa mudar. Pode a mulher descobrir que o homem “não presta”, que o sonho acabou. Pode o mundo desabar, pode a casa cair. Aí, como numa reviravolta do destino, àquilo que não foi vivido volta intensamente. A mulher que nunca saiu pra beber, nunca dançou, pois era tímida, as amigas que nunca fez, a vida que nunca viveu. Tudo vêm à tona, tudo vem como um furacão exigindo o cumprimento do que deveria ter sido realizado e foi interrompido pela exigência louca de ter o amante perfeito.
Comigo está acontecendo o mesmo. Não vivi a época da bebedeira como deveria. Não sair para boates com amigos quando deveria. Me enrolei, não porque estava namorando, mas porque não soube administrar a vida. A vida é sempre como uma balança, e nela existem vários contrapesos. Não adianta pesar somente de um lado. Tudo que é exagerado dá problema. Homem que não comparece verdadeiramente na vida da mulher, vai dá problema. Homem que diz que ama demais, também dá problema! O primeiro, é problema porque não tem a energia ou potência suficiente pra gostar de sua mulher. O segundo, porque deve ser carente demais. Mulher não gosta de homem, nem que não comparece quando ela quer, nem que lhe diz, aos quatros ventos, que lhe ama. Quem ama, deve dizer nos ouvidos de sua mulher, e não jogar flores do Helicóptero do Gugu, pra enfeitar as praças.
Comigo está acontecendo o mesmo. Fui exagerado, porque não comparecia. Era morto, intelectual, impotente. Preocupado somente com os estudos, com os artigos científicos, deixei parte da minha vida passar. Me abstive de viver, de dançar, de aprender a paquerar. Hoje, recebo a intimação diária na minha casa: “você precisa pagar o que deve!”. Por outro lado, já tem um tempo, e não é de hoje, que comparece um exagero, no relacionamento com as mulheres. Virei bobo! É Juliana ali, Mariana acolá, Letícia que não me querer, Fernanda que quero conhecer. Pode parecer legal, “da hora”! Garanhão!. Mas não é! No fundo, ser bobo, é viver perdido, atrás de qualquer mulher, de qualquer menina. E o pior, é que passando por situações de mal tratamento, pois mulher de verdade, não gosta de “ficar”, já que no fundo, todas querem é amar de verdade.
Às vezes, do lado delas, também se percebe certos exageros. Se o homem inventou o revólver, com certeza a mulher inventou a algema. Elas gostam de prender! Os homens gostam de estarem soltos. Aí, já existe um desajuste do destino. Haverá sempre brigas! Elas querem prender, porque desejam “um homem”. Eles querem ficar soltos, porque desejam todas as mulheres! E, hoje, tenho que reconhecer: quem deseja a todas, não deseja nenhuma. Quem deseja todas, deseja somente o próprio umbigo, deseja a vontade masculina-boba de estar por cima, de ser rei, de mandar. Deseja ser garanhão, pra ficar na mesma e velha fantasia infantil: competir com os irmãos. Deseja ser o melhor da festa, o mais bonito, o mais rico, o mais "gostoso". Esse desejo não reflete uma imagem positiva do homem, pois, ao se ver no espelho, o único reflexo será o de menino. Menino disfarçado de homem. Cansei! Não quero mais!