Ao mestre com carinho

                                       Ygor da Silva Coelho

 

      To sir with love... Vocês já adivinharam de quem vou falar? Pois bem, uma vez tentei um autógrafo, uma foto ou um sorriso da atriz Florinda Bolkan, ocasião em que ela visitava a sua cidade natal. Eu estava lá, bem pertinho, ela caminhando na minha frente e nada consegui. Nem um olhar. Outro dia, eu estava num Café, no aeroporto de Congonhas, quando, ao meu lado, uma voz rouca e feminina pediu um expresso. Parece que reconheci a voz, olhei e era a artista que, em minha opinião, é mais bonita da TV e do cinema brasileiros: Carolina Ferraz!

 

       Mas com minha atitude de não importunar as celebridades, deixei-a tomar o seu expresso sem nem um alô. Decididamente, não sou bom no contato com famosos e invejo o meu afilhado Ygor Guanaes. Impressionante. Ele tem paredes e mais paredes recobertas de autógrafos e fotos ao lado de mil celebridades. Jogadores do Flamengo? Tem todos. Treinadores da seleção? Não falta nenhum. Artistas de cinema? Brasileiros e de Hollywood. Cantores? Paul MacCartney, Adele, Shakira!

 

       Mas, voltando às minhas limitações com famosos, anos atrás fui fazer um trabalho em Georgetown, capital da Guyana Inglesa e lá, sim, consegui me aproximar de um ganhador de Oscar. Por incrível que pareça, na Guyana!

 
      Colonizada pela Inglaterra e com uma cultura que mistura raízes indianas, africanas e inglesas, a Guyana é diferente de todos os lugares que já fui ou imaginei um dia ir. Oitenta por cento das casas ainda são de madeira, destacando-se alguns palacetes belíssimos, prédios públicos, antigas moradias dos ingleses e a famosa Saint George’s Cathedral, que é a maior construção em madeira do mundo.

 
      A propósito, apesar dos problemas característicos de um país pequeno e isolado, a Guyana é lindíssima nos recursos naturais, com  rios imensos, florestas intactas e áreas de cerrado que parecem intermináveis.

 

       Passei quatro meses em Georgetown. Durante esse período, como a segurança na cidade é precária e são poucas as opções de lazer, aos domingos eu costumava ir para o hotel Pégasus, pertencente à rede Le Méridien. Passava o domingo, ou feriado, na piscina curtindo o sol e ouvindo a steel band de Roy Geddes, que se tornou meu amigo, tão frequente era a minha presença. Abro parêntesis para perguntar se  vocês já ouviram uma steel band? Fantástica! Eles tocam em tonéis de aço e reproduzem todos os sons imagináveis. Juro que pensei seriamente em um dia trazê-los a Salvador. Seria sucesso garantido.

     
      Voltando ao hotel Pégasus, num desses domingos a steel band tocava como de costume, mas eu notei um movimento diferente, sorrisos mais largos e uma atenção especial das garçonetes com um senhor negro, alto, simpático, cabelos grisalhos, aparentando uns 70 anos, sentado numa varanda. Imaginei um político renomado, um senador. E como sou curioso, no meu inglês de baiano perguntei à garçonete quem era aquele senhor?

 

 - A movie star, ela me respondeu. 

- A movie star???

 - Yes, Sidney Poitier.

 

       My god! Sidney Poitier, ator de “Ao mestre com carinho”, adorei este filme, o primeiro ator negro a ganhar Oscar! O movimento era pequeno no hotel de raros hóspedes, não me contive. Falaria com Sidney Poitier ali, ou never more. E fui lá:
 

 

 

- I am your fan! Assisti todos os seus filmes, exagerei eu.

 - Oh, Yes! Where you come from?

 - Bahia! Brasil. - Oh, Yes!  E abraçou-me como se fosse um velho conhecido.  Sujeito simpático!

 

      Expliquei que eu era an agronomist. E fiquei sabendo, de viva voz, que o ator estava em Georgetown para receber um título de Embaixador, em reconhecimento ao clássico “Ao mestre com carinho”, filme rodado em Londres, e que tornou a Guyana mundialmente conhecida.

 

       Dia seguinte, comecei a rever todos os filmes de Sidney Poitier. To sir with love!

 

 

 

Ygor Coelho
Enviado por Ygor Coelho em 24/03/2012
Reeditado em 02/07/2012
Código do texto: T3573075
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