PREFIRO ESCREVER

ESCREVER É TIRAR A ROUPA

Exceção seja feita ao monstruoso e espetacular artista e humorista Chico Anysio que a gente pode ter certeza de que tudo que ele improvisava na fala tornava-se eterno, pela capacidade que tinha de presentear humor, finas ironias, esbanjando inteligência e vontade de viver sempre em busca do inédito. Minha homenagem a ele e seu melhor personagem com o qual, não sei por que, me identifiquei sempre: Bento Carneiro, o vampiro Brasileiro. Tomara que “Deus” um dia seja condenado, por o ter roubado de nós. Chico, pensava e escrevia, gravava, seu amor, seu humor em nossos corações, apenas pela fala. Era único. Era o "Cristo redentor" das minha tristezas e das minhas amarguras.

Mas vamos ao meu texto:

Não se pode negar a diferença entre falar e escrever. Quando conversamos com alguém num ambiente calmo, tranqüilo, onde a pressa não existe, possivelmente você consegue pensar primeiro para falar depois, mas mesmo assim depois que o pensamento ganhou a sonoridade e sai do interior das quatro paredes de seu cérebro para compartilhar aquela manifestação, os efeitos são imediatos. Pode ser um sussurro intimo, pode ser um bate papo com um ou mais amigo, pode ser um discurso, pode ser uma entrevista, pode ser um choro que representa o grito da dor e pode ser uma gargalhada a linguagem daqueles que se manifestam esporadicamente felizes ou abobados, babacas inconscientes.

Na escrita, não. A coisa é séria. Você vai definir certamente em muito menos palavras o seu conceito de vida. Você vai pensar, buscar um entendimento de tudo aquilo que você testemunhou, ouviu, leu, e viveu intensamente ou despretensiosamente e vai documentar sua visão, seu ponto de vista.

Muitos dirão: Ah... mas você escreve muito e lê muito pouco. Pedem pra que eu cite alguns livros, alguns autores importantes que eu tenha conseguido desfolhar páginas e mais páginas de seus livros famosos, reeditados tantas e tantas vezes e realmente tenho dificuldade para enumerá-los porque realmente são muito poucos. Li na minha infância, pedaços de livros de José de Alencar, Machado de Assis, Jorge Amado e muitos outros pedaços de obras de autores mais contemporâneos.

Mas tenho um grave defeito e confesso publicamente: Não gosto de nada por inteiro, escolho sempre os melhores pedaços, por informação de terceiros ou por decisão própria. Jornais por exemplo mostram como isso na prática funciona e um dito popular antigo também: “Prá quem entende, um pingo é letra”. Portanto, porque eu vou ler uma noticia inteira num jornal se em muitos casos a manchete diz tudo. Rsss.

E tem também o fato incontestável de que o termo leitura é muito mais abrangente: Senão vejamos: Você viaja de carro, e entra numa dessas cidadezinhas pequenas de interior que cresceram à beira da rodovia e com uma “leitura” atenta dos seus olhos, você pode avaliar, a população e com um pouco mais de tempo você pode perceber principais atividades econômicas, acidentes geográficos importantes, etc.

Uma festa de formatura, uma colação de grau, uma festa de aniversário, um casamento, um restaurante, uma instalação sanitária, uma confeitaria ou até mesmo um candidato a uma vaga na sua empresa que você vai entrevistar pessoalmente, tudo isso você vai ter que fazer uma “leitura” muito atenta, para saber onde está e avaliar se vai ficar ou se vai embora, ou até mesmo saber de antemão que ali você não precisa ficar muito tempo, como um banheiro sujo por exemplo.

Portanto, para aqueles que acham que leitura é importante, é preciso em primeiríssimo lugar aprender a ler tudo, observar tudo e não apenas ficar devorando livros e idéias de terceiros ainda mais hoje que estamos vivendo o tempo em que até os boçais podem escrever qualquer merda e publicar. O mais importante também é não se prender apenas uma obra, uma idéia e ter a inteligência suficiente que para entender os caprichos e os mistérios da vida, é e será sempre saudável ler os filósofos e historiadores antigos (permite-se até a inclusão da bíblia, uma colcha de retalhos interessante), mas também ficar atento aos autores contemporâneos que misturam tudo aquilo que leram e aprenderam e expõem seus pontos de vista, como aqui, por exemplo, no recanto das letras, onde existem excelentes autores. O exemplo da boa leitura pode ser aqui mesmo: Tem muita gente aqui no RC que você acessa lê uma crônica, um artigo e um poema e já conclui que nunca mais vai visitá-lo, mas existem outros que você lê o perfil e já sabe que pode passear por alguns textos de sua autoria para partilhar e aprender, que é o objetivo da leitura seletiva e inteligente.

Portanto, a fala é um ato repentino automático quase que padrão, limitada ou provocada e mesmo que executada com todo equilíbrio e serenidade, perde e muito em qualidade para um texto escrito que carrega tudo que existe nas entranhas do ser humano. Revela a plena e absoluta lucidez, muitas vezes revela a inocente ignorância e na maioria das vezes revela o romantismo, o amor ou a paixão desenfreada.

A vantagem dos textos escritos é que dificilmente revelam o ódio, a vingança porque isso felizmente até os mais imprudentes detestam documentar ou eternizar, a não ser alguns religiosos fanáticos que vivem do ódio disseminado e implícito nas bíblias sagradas.

Portanto, gosto muito mais de escrever do que falar, pois sou autêntico comigo mesmo. É exatamente onde reside também a busca do inédito de que todos nós procuramos para nos eternizar.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 24/03/2012
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