Chico Anysio sai de cena: agora é hora dos aplausos
Chico Anysio sai de cena: agora é a hora dos aplausos.
Morre um ícone do humor brasileiro. Chico Anísio foi e sempre será saudade quando sentirmos falta de rir diante da televisão. Ninguém foi ou será capaz de criar tantos personagens caricatos, com personalidade e características tão diferentes. E todas com uma acentuada veia crítica, alfinetando oposição e situação, num sarcasmo merecido pela sociedade podre que ele criticava tão bem. O Paínho, sátira comportamental do comodismo baiano, eternamente deitado numa rede que balança mansamente. Pantaleão e seus contos exagerados, com sua inseparável Terta, cúmplice de suas mentiras. O professor Raimundo, na escolinha que imortalizou tantos humoristas, muitos esquecidos da mídia e ali reunidos talvez para uma última chance para a sobrevivência ou para elevar a autoestima de muitos já relegados ao esquecimento. Roberval Taylor e sua empáfia, sempre esnobando sua performance nos versos dedicados às mulheres, ou se esmerando no jornal do lobo. Alberto Roberto com sua inseparável touca de renda moldando seus cabelos e provocando sempre com seus eternos por quês e sua ironia sobre a sexualidade. Azambuja, com seu cabelo Black Power, um malandro desajeitado, querendo sempre se dar bem, mas sempre fadado ao fracasso. O Baiano com sua fala mansa, sempre numa boa, com discussões filosóficas, parodiando o presente e o passado em sua volta. Bento Carneiro, uma aberração vampiresca, com sua maquiagem hilária e seus olhos cavernosos, ironizando sempre o povo brasileiro e suas mazelas. Justo Veríssimo, a paródia mais criativa sobre a corrupção política, centrada na aversão à pobreza, querendo sempre que o pobre explodisse... Nazareno, marido debochado, esculhambado, com seu bordão famoso de – Calada!... e a tirada sacana para que quem tivesse dó, levasse a prenda. Haroldo, o hétero, língua solta, bicha enrustida, sempre pavoneando sua identidade secreta, um eufemismo sexual. Salomé, uma digníssima senhora gaúcha, sempre às voltas com o presidente João Batista (Figueiredo), a quem intimamente chamava de guri, numa crítica sutil ao momento político da época, onde numa forma muito inteligente questionava os rumos do país, numa paródia brilhantemente inspirada na dançarina Salomé, que pediu a cabeça de João Batista. Bozó e seus dentes avançados, sua fala picada e sua obsessão pela TV Globo. Coalhada, um jogador fracassado, com seus olhos enviezados, um verdadeiro perna de pau tentando se passar por um atleta de destaque. Jovem, que era um outro papo, numa época que já passou. E Popó?... E tantos outros, que já nem sei... Foram centenas, inesquecíveis, perfeitos na sua época, no momento em que o social e o político influenciavam o inimitável Chico para que a inspiração desse vida a tantos personagens que ele viveu e eternizou na TV. Sentiremos saudades, muitas saudades... Talvez nunca mais vejamos alguém tão versátil e talentoso, com um carisma especial para cada um desses filhos que ele deu vida diante das câmeras. Mas resta o consolo de que eles não morrem com ele. Ficarão eternizados nos arquivos e na nossa memória, para que possamos rever sempre que a saudade ou que a tristeza bater... e então, iremos rir de novo. Porque foi para fazer rir que ele nasceu. Agora é hora de levar alegria para outras dimensões. O céu na certa está precisando de alguém para aliviar as almas, com o bálsamo das risadas, por isso escolheram o melhor. Parece até que ouvi alguém chamando: venhaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!! Como diria Rolando Lero, amado mestre, as cortinas se fecham para vossa magnânima apresentação nesse mundo, sob os aplausos unânimes dessa humilde plateia. E todos aplaudimos de pé.