COM O SAMBA NO PÉ.
Meu pai chamava-se Antonio mas tinha um apelido, Seu Santeiro. Até hoje não sei a origem real do apelido, mas dizia-se que era por causa das filhas bonitas que ele fizera com minha mãe, porque santo, ele nunca fez...Meu pai gostava mesmo era de dançar samba ao som do atabaque, do tamborim e do canto alegre dos amigos.Sempre que havia festas de arraial, num barracão de chão batido, ele e a Comadre Lina, nossa vizinha de sítio, davam um verdadeiro show, o povo fazia roda só para vê-los dançar. Depois do show, todo mundo caia no samba, até as crianças. Ainda hoje quando vejo o mestre sala e a porta bandeira das escolas de samba, passa-me vaga lembrança de meu pai fazendo aqueles passos complicados e a Comadre Lina acompanhando. Penso que aquele era o legítimo samba no pé. Meu pai era um fidalgo, muito branco, de olhos azuis. Dele não lembro de uma só palmada, mesmo no dia em que cortei minhas pestanas por achar que elas estavam crescidas demais.Mas lembro de sua faceirice quando as palmas vinham da platéia pelo ingênuo espetáculo que ele e a Comadre Lina ofereciam ao distinto público.