O Homem de Maranguape

A gente costuma dizer que gosto não se discute. Porque se trata de uma questão pessoal. Mas um sociólogo francês, que não lembro o nome agora, nos mostra que não é bem assim. Que a questão não é tão pessoal. Que as preferências e escolhas estão calcadas no que aprendemos com a família e na escola. E ele desenvolve uma série de argumentações que acabam nos parecendo convincentes. De fato, não somos só aquilo com que nascemos, a índole, idiossincrasias, etc. Somos muito mais aquilo que aprendemos. Na verdade, basicamente não vestimos uma camisa por que gostamos mais dela do que de uma outra, se ambas são de fazenda, com botões na frente e de mangas curtas ou compridas. Então o diferencial pode estar na cor ou no tecido (liso ou estampado), se está passada ou amarrotada ou se é usada ou novinha. Essencialmente, contudo, a camisa é a mesma. Aquela que se aprendeu a vestir.

Do mesmo modo, a gente costuma dizer que ninguém é insubstituível. Jô Soares discordou, dizendo hoje que Chico Anysio é um pouco. Ouso dizer que o Chico é totalmente insubstituível. E que na verdade todos somos insubstituíveis, na medida em que não há no planeta um ser humano que seja inteiramente igual a outro. Nem (ou muito menos) espiritualmente. É uma matriz que não se renova. Pode até ser derivativa, em se tratando de filhos, irmãos, primos, etc. Mas não se repete.

Não precisaríamos recorrer à versatilidade do Chico como criador dos seus inúmeros tipos caricatos. Ou ao seu talento como compositor, escritor, ator e pintor. Não haverá um outro Chico, como não haverá um outro João da Silva qualquer.

O que podemos dizer é que há pessoas super dotadas em certos tipos de atividades e outras nem tanto. Mas todas são diferentes. E podemos dizer também que é lamentável, mas Chico acabou. Será possível rirmos muito ainda com outros comediantes, mas não da mesma forma que o fazíamos com o Chico.

Ele foi e será sempre inigualável. Essa constatação é boa porque é preciso que saibamos que as pessoas que estão ao nosso lado, assim como nós, que estamos com os outros, quando desaparecemos levamos com a gente o nosso código pessoal e intransferível. E que jamais irá se repetir, embora tudo o que aprendemos na vida vá se constituir numa história que, embora os nuances e características específicas, irá se apresentar lá na frente de uma forma já conhecida.

Assim, quem curtiu o Chico, deu sorte. Quem não curtiu, não precisa esperar por outro. Pois, no caso dele especificamente, não haverá nada parecido.

Petrópolis, 24/03/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/03/2012
Reeditado em 24/03/2012
Código do texto: T3572566
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