Viva o brega!

Parte da minha vida foi regada ao som da boa música. Os encantos da infância, relembrados hoje, com saudade imensa, tiveram muitos nomes, e letras marcantes. Um dos grandes, e inesquecíveis daquele tempo, é Frankito Lopes – O Índio Apaixonado. Ouvi suas músicas em vinis, numa coleção que não era minha, mas era como se fosse. Um desses vinis, intitulado “Explode Coração”, trazia 12 faixas de muito romantismo. Há algum tempo, quando ainda havia as serestas, eu sempre pedia o clássico “Quero dormir em teus braços”, anotando-o num guardanapo, que chegava às mãos do cantor.

Nessa época, das músicas boas, havia um parque pertinho de casa. A diversão era oferecer música para os paqueras. Não era preciso se identificar, nem dizer o nome da pessoa a quem se dedicava a música. O locutor dizia algo do tipo “alguém apaixonado, oferece para o rapaz de blusa amarela, bermuda tal...” e a descrição tinha de ser de acordo com o que a pessoa estivesse usando. Se fechar os olhos, posso ouvir o chiadinho do vinil, antes de se inciar a música.

E quando era aniversário de alguém, pedíamos uma música do José Orlando “Parabéns pra você meu amor, marquei a data no meu calendário...” Nossa, era muito legal! Não havia nada de ridículo em expressar sentimentos.

Uma outra música que tocava muito no parque era “Seresteiro das Noites”, Amado Batista (ninguém merece!) “Enquanto eu cantava o amor, em mim uma paixão nascia; entre a penumbra um rosto na janela pra mim sorria...”

Quem nunca foi a um bingo-dançante não sabe o que perdeu. Além de ajudar a quem estava promovendo o evento, que lucrava com a venda das cartelas, os amigos se reuniam numa bela confraternização para dançar e se divertir. A turma suava, com gosto, dançando Alípio Martins, Beto Barbosa, Eliane (A Rainha do Forró), Aldo Sena... Preciso confessar o quanto me satisfaz relembrar esse tempo bom. E escrever tudo isso é um exercício mental que me faz feliz, me deixa esquecer de todo o resto.

As músicas e os cantores, assim como tantos outros que recordo, ficaram guardados. Gosto das canções que têm letras e, se isso me torna uma pessoa brega, sou brega mesmo. Adoro ser! Aposto, sem medo de perder, que minhas filhas não terão músicas que as façam recordar a adolescência, o primeiro amor ou algo assim. As “letras” que tocam hoje, em questão de dias serão esquecidas.

Publicado no O Povo online: http://www.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2012/03/22/noticiajornaldoleitorcronicas,2806844/viva-o-brega.shtml

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 23/03/2012
Reeditado em 14/08/2013
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