Dia difícil!
Acordei cedo , com dor de cabeça , os olhos grudados , cansaço abundante pra dar e vender. A noite foi boa? Afirmo que sim! Desci as escadas feito alma penada , sem rumo ou estrada , só queria andar. Cheguei na cozinha , cocei a cabeça , fritei uns ovinhos , tomei um café pra me levantar. O café era preto , forte e sem medo, entrou nas minhas veias , querendo ficar. Peguei água fria , joguei no meu rosto ,despertei meus desejos , estava pronto pra outra? Voltei pro meu quarto , botei o meu terno e achei meus sapatos. Espanto eu tive , não posso negar , pois aqueles sapatos não estavam engraxados. Sentei na minha cama , repleta de traumas , salivei bastante e cuspi nos sapatos. O brilho chegou , o sorriso pintou , corri para o carro , mas ele não funcionou. Peguei minha pasta , de couro polido , liguei pro escritório... disse que ia chegar. Corri lá pra dentro , liguei pro vizinho , pra me ajudar. Fiz uma chupeta rápida e rasteira , o carro chegou e fui trabalhar. A rua lotada de carros e motos , me fez pensar: SAIU ATRASADO , VAO TER QUE AGUENTAR! O guarda apitava , as crianças choravam e as buzinas soavam sem parar. Pensava comigo , quieto o bastante pra ninguém escutar: QUE DIA INFERNAL , QUE EU FUI ACORDAR.NÃO DEI UMA DENTRO , MAS VAI MELHORAR.
Cheguei no escritório , com o terno suado , o ´´AR`` já ligado e o serviço atolado. Chamei a Janete , com voz irritada, sem calma alguma , querendo explodir. Deu um toque na porta , entrou bem cabreira: -Pois não senhor? - Pois não uma ova , cadê os contratos em cima da mesa como havia ordenado? Meus olhos pulavam , meu sangue fervia e a Janete surtava. Saiu repentina , sem bater a porta , voltou em instantes com os papéis na mão. Tirei o meu terno , botei na cadeira , olhei para ela e agradeci. Com o cuidado de um monstro , mexi nos papéis , sem dizer uma palavra ,até que eu ri. Que dia engraçado , loucura total ! Sentei na minha mesa , sorri pro retrato , olhei a gaveta , o porta-canetas , tudo estava lá. Afrouxei o colarinho da blusa apertada , dei uma rápida olhada nos sapatos brilhantes e vi que bom trabalho eu havia feito. Olhei o calendário , pensei na novela e na pilha de louça que ia ter de lavar. Chamei a Janete , sem ter um porquê , só queria falar pra me animar. Janete chegou meio assustada , com um doce na mão e me ofereceu. Eu disse que não , pois já ia almoçar , a hora passou rápido e sorri para ela , porque aquela amanhã já ia acabar.
Bati o meu ponto , peguei o meu terno , entrei no meu carro e fui almoçar. Olhei umas ruas e alguns lugares , pois uma picanha eu queria comer. Picanha na brasa , com batata-frita , pitadas de sal , pra me alimentar. Um balde de gelo , garrafas de ´´COCA`` pra me refrescar. Sentei numa mesa, com a cadeira bamba , chamei o garçom para consertar. Lugar razoável , com música alta , pedi para alguém ir lá abaixar. Pedi a picanha , olhei o relógio , teria alguns minutos pra saborear . A ´´COCA`` chegou e a picanha não. Fiquei numa boa , sem reclamar. Peguei o SMART , fingindo jogar , o tédio era grande tenho que falar. Virei o pescoço e quase enfartei , pois minha ex esposa estava lá. Na mesa ao lado , com um homem barbudo , comendo a picanha , que eu tanto queria. Olhou em meus olhos , mas fingiu não me ver. Depois de algum tempo a picanha chegou. Comi feito um louco , morrendo de fome. Comi sem deixar restos ou vestígios de sua existência. Estava atrasado. Olhei para o caixa , a fila era imensa , nunca vi tanta gente pra pagar uma conta. Pulei da cadeira , entrei lá na fila e torci para andar. Chegou minha vez , passei o cartão , mas ele travou. Fiquei na sinuca , não entrei em pânico , já que tinha outro , foi o que usei. Na saída notei qe algo estava diferente. Meu carro sumiu! Perguntei pro moleque se ele havia visto. Ele disse que sim , que o reboque levou.
Parei na esquina e no peito e na raça , entrei me um táxi , indo direto para o depósito. Chegando na porta , um caboclo irritante perguntou o meu nome. De boca é mole , ele disse grosseiro , e o documento eu tive que mostrar. O meu carro estava enfiado em um canto , esperei o manobrista pra poder retirar. Além disso tudo , uma grana preta eu tive que pagar. O meu tempo estourou , a Janete pela quinta vez ligou , mas faz parte do dia vivido por mim , que eu não quero lembrar. Segui o viaduto , fui na contramão , passei o sinal e cheguei na empresa. A picanha pesava , minha boca ardia e uma sede absurda tomava conta de mim. Passei pelo ponto , abaixei a cabeça pois explicação eu não queria dar. Cheguei no escritório , com os pés latejando , a Janete gritou que ia ter reunião. Reunião com a galera da auditoria , tomara que isso não dê confusão. A mesa era grande , lotada de ternos e todos bebiam em copos modernos. O gerente me olhava , todos me olhavam. Nervosismo extremo eu pude sentir , reunião da empresa não dá pra fugir! Me virei na cadeira , com o corpo pesado , a cabeça tombava e eu quase dormi. As folhas passavam , com as perdas do mês , o meu chefe gritava , como um louco burguês.
Depois de horas sentado , enfim chegou ao final. Levantei cordialmente , dando adeus para eles. Fui ver Janete, aceitei um café e uma bala de menta , pois essa mistura é tudo pra mim. Sentei no sofá da recepção , todos se foram , quase não percebi. As paredes me olhavam , o chão me agarrava , o sol se escondia... o dia acabou. Anoite chegou , como quem não quer nada , trazendo o refresco da bela cidade. Pensei em ir embora , e andar pela praia , mas estava morto e só queria ir pra casa. Levei a Janete até a esquina , porque secretária esforçada merecia carona. Entrei na minha rua , vazia e sem nada , com medo do escuro , mas eu fui em frente. Cheguei na minha porta , nervoso e pomposo , abri o portão e entrei sorridente. Estava esgotado , não olhei para os lados , só queria deitar e matar o cansaço. Um banho eu tomei , um pijama botei , uma banana eu comi e desculpem , mas eu preciso dormir!