Lábios de mel, tal Iracema.
Quando eu estudava no ginásio, na turma do primeiro ano científico, que ficava frente à minha, havia um jovem que sempre entrava, na minha sala de aula, na hora do recreio, para conversar. Sentava-se a meu lado e questionava por que eu não descia na hora do recreio? Dizia-lhe que preferia ler a matéria que o professor explicara, para fixar melhor o conteúdo. Sempre aprendi, melhor quando lia o texto, logo a seguir à explicação do professor e também, por não ter tempo de estudar outra hora devido ao trabalho.
Ele ficava me olhando e dizia que eu tinha os lábios de mel, tal qual os de Iracema. Eu gostava de ouvir aquilo, mesmo tendo namorado e ele não sendo o tipo de homem que me despertasse interesse. Era magro, moreno, rosto fino, olhar ansioso e ficava me rodeando o tempo todo. Mas, era respeitoso e conversava sobre tudo. Era muito inteligente.
Acabei me acostumando a conversar com ele naquele horário, e sentia falta no dia em que não aparecia. Depois das férias de julho não voltei ao colégio, pois me casaria em agosto e não continuaria a estudar. Nunca mais o vi. Mesmo assim, às vezes, me lembro daquele seu jeito de tentar me convencer a sair consigo, mesmo que fosse para o pátio, na hora do recreio.
Praia do Anil, Magé - RJ
Benedita Azevedo
21 /03/2012