O menino de rua
Todos os dias, quando ia ao colégio, encontrava-me com um garoto que sempre estava a pedir esmolas no semáforo. Nunca havia percebido com clareza este garoto até o dia que ele me pediu algo para comer. Antes de isso acontecer, ele era como uma estátua que enfeita a paisagem, sempre ali no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa.
O menino se chamava Pedro, para uma estátua seria perfeito, mas não para um esqueleto vivo. Esqueleto, a melhor palavra para defini-lo de tão magro que era. Pedro tinha dez anos, com aparência de seis. Mesmo em sua pouca idade, sua vida era difícil. Cobria seu corpo sempre com a mesma roupa suja e rasgada e seus pés com uma chinelinha velha e quebrada. A expressão de seu rosto era sempre a mesma, sem esperança e de uma languidez suave. Era muito calado, só falava quando ia pedir algo ou quando chamava o irmão mais novo para comer alguma coisa que conseguiu. Duas crianças, uma cuidando da outra e vivendo na mesma miséria.
Vivendo na rua e ainda cuidando do irmão, tendo que suportar todo o sofrimento e saber que a vida não passaria daquilo. Se houvesse um pouco de dó no olhar de quem os via. Quem sabe os dois não teriam um futuro melhor, com estudantes dedicados, profissionais solidários. A vida se apresentou a eles como um mostro cruel.
Só que todos os dias são iguais e o tempo esquece o menino, que já não existe mais, não vive mais. Pobre criança deixada para trás como um nada!