O que irrita...
_ Morri! - Atirou a mochila em um canto do quarto e se jogou na cama.
_ Quanto drama!
_ Não enche! - Sentou-se e começou a tirar os sapatos.
_ Nossa, vejo que está excelente hoje. A arrogância continua no...
_ Me deixa! - Jogou o sapato na direção da voz errando propositalmente.
Desfez-se das outras peças do vestuário.
Silêncio.
_ Então, por que tanto stress?
Fingiu não ter escutado a pergunta e foi para o banheiro.
_ Ei, eu fiz uma pergunta!
_ Já disse... - Fixou-se no espelho por alguns instantes - Bom, como esperava que eu estivesse depois de trabalhar no sábado! Por favor! Quem trabalha no sábado?
_Você! E mais um monte de gente.
Não respondeu e lavou o rosto.
_Mas você aceitou trabalhar no sábado, então não deveria estar assim... Até mesmo porque vai ganhar uma boa remuneração... muito boa, eu diria.
_Tanto faz.
Foi tomar banho!
_ Agora tudo o que eu quero é dormir o resto do dia! - Novamente se jogou na cama. Dessa vez com o traje adequado.
_ Não acho que esteja tão mal assim...
_ Mas que... Já disse! Some! Você diz isso porque não precisou trabalhar como eu.
_Precisei sim, e você sabe disso.
_ Eu não sei de nada agora me deixe dormir.
_Tá!
Silêncio.
_ Você precisa melhorar esse humor...
_ O quê... - levantou-se de repente e começou a andar pelo quarto - Você não vai me deixar em paz, não é mesmo? - Perguntou enquanto olhava pela janela do quarto.
_ Er, acho que não... Talvez seja a minha função.
Suspiro. Voltou a sentar-se na cama.
_ Eu te odeio!
_ Eu também.
_ Você também o que?
_ Odeio.
_ Quem?
_ O que você disse mesmo?
_ Que te odiava.
_ Então eu também.
_ Mas eu odeio VOCÊ!
_ EU TAMBÉM!
Cansou-se da discussão inútil e foi ler um livro.
_ Ei...
Não respondeu.
_ Ei...
Silêncio.
_Você não iria sair com alguém?
Lembrou-se. Havia marcado alguma coisa com alguns conhecidos. Olhou no relógio apenas para descobrir que já passava da hora... Correu para se arrumar.
_ Você não precisa ir se não quiser.
_ Eu vou!
_ Vá então! Depois não diga que eu não avisei...
_ Pelo menos você não vai estar lá. - Abriu o guarda-roupa e procurou algo para vestir.
_ Claro que eu vou com você.
_ Não, não vai! - Escolheu os sapatos.
_ Você sabe que vou.
_ Eu vou me divertir tanto que nem vou notar você e suas tentativas irritantes de chamar a atenção.
Começou a se vestir.
_ Talvez! Você sabe que não vai se divertir. Isso é quase impossível... (risada sarcástica)
Silêncio.
Foi ao banheiro terminar de se arrumar.
Batidas na porta.
_Entre! - Gritou de dentro do banheiro
_ Vai mesmo?
_ Vou!
_ Eu estava pensando, e acho que poderíamos...
_Cala boca! - Levantou a voz.
_O que?
Saiu do banheiro e percebeu a cara de espanto de quem havia batido na porta do quarto.
_Ah, estava apenas cantando uma música.
_ Hum, tá então!
Antes de sair deu uma última olhada no espelho atrás da porta e lançou um sorriso malicioso para a imagem refletida. Pelo menos por algum tempo ficaria longe daquele reflexo irritante.