Morango ou chocolate? ( à moda bem antiga)
Escrita em julho de 2001
Os olhos da menina cintilavam. Ela ria muito e estava ofegante. Ele a segurava pelos pulsos.
_ Solte-me. Tenho aflição que me prendam assim. Sinto falta de ar.
_ Solto. Mas não vejo como lhe posso estar tirando o ar. Não tem nada a ver uma coisa com outra. Não há lógica. É psicológico, não vê?
_ Agora você não me pega. Corra, seu bobo.
E desataram a correr gramado abaixo. Ela escorregou e caiu. Ele sentiu uma ponta de culpa e um tanto de gosto. Não a pegou nos pulsos; procurou-lhe as mãos, os olhos e a boca. Estavam ambos suados e mudos. Beijaram-se. Ela, desvencilhando-se, sentou-se na relva e arrumou os cabelos, penteando-os com os dedos. Ele ficou deitado na grama, cabeça apoiada nas mãos, olhando os recortes do céu azul por entre as árvores.
_ Nina, promete-me uma coisa?
_ O que é?
_ Você me espera até quando eu voltar de férias?
_ Espero. E você, não me esquece?
_ E dá, Nina? Você acha que eu não tenho sentimentos?
_ É que vocês, meninos, vivem aventuras. Não creio que daqui a um mês ainda se lembre de mim, de nós.
_ Ele se apoiava agora com os cotovelos, o corpo meio levantado da relva, sorriso indignado:
_ É isso que vocês pensam da gente. Magoa, Nina, sabia?
Ela lhe selou os lábios com o indicador, pedindo-lhe silêncio. Não iam brigar agora, iam? Marota, ergueu-se de um ímpeto, mas antes que corresse ele a segurou.
_ Agora você não consegue. O rapaz colocou-lhe a mão no ombro e lhe perguntou:
_ Que sabor você prefere: morango ou chocolate?
_ Milho. Adoro sorvete de milho.
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Passaram-se seis meses. (No segundo mês ele soube que ela se mudara para o interior; o pai fora transferido). Sentado na relva, à beira do lago, ele gritou:
_ Tem de milho, moço? Veja-me um de milho.