Uma luta contra a morte, ou melhor, dizendo e escrevendo, a favor da Vida. Morte e Vida. São sinônimos de começo e fim. Fim da Morte e começo da Vida ao chorar o nenê, menino e menina, médico atento, o obstetra. E foi assessorado durante alguns meses pelo dito ginecologista. A mãe está ótima de saúde, o pai um bom garanhão, escolhido por ela a dedo, e, por incrível que ela tenha conseguido, todos os exames de espermograma confirmaram a ótima escolha. O nenê vai nascer sadio, apesar de já iniciar, na Vida, apanhando e gritando algo que ninguém compreende. Talvez assustado pelo fato de pessoas presentes para bater nele? Não, depois ele compreende, ou sente, ou lhe é explicado, aos verdes anos, devagar para não assustar e o caluniar com relação ao sexo. Sabe como nasce os nenês, mamãe? Ela se assusta, o pai sai de lado dizendo que o problema é dela, ainda mais se for menina. E ela ouve sim, detalhadamente, que a vida é feita de várias ações, ou inúmeras ejaculações, afinal ele precisa ser treinado. Bem treinado. Curso livre e sem professores e curso geral e definitivo, com diploma, quando a parceira aparece. Assim se faz, assim se codifica. Masturbação. Feminina e masculina. Descobriram finalmente, como se faz os nenês. Acabou a cegonha, acabou a titia, enfim, vou estudar medicina. Quero acompanhar, passo a passo o que acontecer, em todos os detalhes, após a fecundação. Leu, interessou, a profissão é a das mais disputadas, e, para gáudio de seus aficionados, pode ser bem remunerada, caso, veja muito bem, caso seja um ótimo profissional. Portanto estude, meu filho, foi o que ouviu após terminar e passar para a universidade, através do cursinho e das ótimas notas durante todo o percurso. Antes de mais nada, estudante de medicina tem que ter, muito mesmo, esforço e a considerada aptidão para o fato de ver, não se assustar e não se espantar com um morto, em sua primeira aula de anatomia cadavérica. Assim é, assim se faz. E faz, até o segundo ano, sem escolher qual o ramo. E perguntam. E ele respondeu, finalmente. Aceitou essa condição de ser o que ainda não existe na moderna medicina. E falou com alto e bom som, para os professores, para os colegas de aula e na mesma condição ao terminar o segundo ano. Agora a escolha. Especializar-se em um único membro, ou membros, e funções. Orgânicas e orgásticas. Sexo e cabeça. As duas que se unem para cumprir a continuidade da vida.
- Vou ser sim, um médico, mas não dos que vocês conhecem. Vou ser o companheiro final, para conseguir dizer adeus com dignidade. Ele, o meu paciente, vai poder escolher a quem desejar muitas felicidades, ou dizer o quanto vai sentir falta e desejar, novamente, essas mesmas felicidades que discursou para outros, sem a devida emoção. Alguns mais, outros menos. Ele se intitula, agora, que vai ser o primeiro médico, autorizado, à eutanásia. Vai ser Eutanasista.
- Isso não existe. Ouviu muito, de muitas pessoas e vai estudar, até o quinto ano. Depois, com amigos advogados, vai propor essa condição, como médico, de acompanhar pacientes terminais. E eles, os seus pacientes, vão definir. E ousou confirmar, dia após dia que seria isso mesmo. O argumento foi de que existem outros profissionais, ginecologista, ortopedista, cardiologista, acupunturista, bem, se for o caso pode relacionar a todos, um por um, sem necessidade. Afinal, para eles todos, sabem de cada característica e o melhor professor para ensinar e orientar. Ele vai ser o primeiro.
- Eutanasista?! Você enlouqueceu, é contra a lei. Vai ser incriminado e poderá ir preso.
- Os mortos da guerra, no trânsito, de brutalidades outras também vão? Se for assim, aceito plenamente. Ele agora estufa o peito, apesar de não querer, em momento algum, escandalizar ou projetar contra a família todos os preconceitos da sociedade. Ainda mais a premente e constante vigilância da associação dos médicos. Isso não pode ser considerado. Lutamos pela Vida, não para ampliar a Morte. E quando a Morte já ceifou a vontade, por considerar terminal algo que não tem mais como a medicina – atual – vislumbrar um mínimo que seja a um paciente com idade avançada e pouco lúcido e encontra nas drogas pesadas o efeito um pouco mais do que um arbusto, uma planta, vegetando. É assim que se consolam a quem diz que quer o bem dessa pessoa totalmente dependente.
- Eu quero, eu quero, ainda consegue balbuciar. Eu tenho o direito de legislar pela minha Vida. Vocês, sociedade, dizem que é obrigatório a cada um cuidar da vida que lhe é dada, pelos pais ou pelo criador eterno. Que aceita a morte, ou sequer, contradiz sobre os seus efeitos. Afinal, ele a criou assim também. É de nosso direito estar de um lado ou outro. Esqueçam a religião e os preconceitos. Estou aqui. Vivo como vegetal a maior parte do tempo. Quero ir embora, chamem os meus filhos e a minha esposa... chamem os meus tios e a minha amante... chamem a todos a quem odiei em vida para pedir perdão... e depois vou embora. Quero assim. E não quero sofrer. Doi tudo em mim, as costas, a cabeça, os pés, e quer saber, estou irritado em ter que explicar que até a alma doe nesse corpo cansado. Quero ir embora. Onde está o médico?
- Não existe médico com essa especialidade.
- Pois deveria, autorizado. Como existe para todas as outras partes do corpo, incluindo alma, psiquiatra, psicólogo, quero todos eles. E um Eutanasista. Não quero sofrer ao morrer. Posso chegar cansado e magoado. Música suave, alguém passando a mão na minha testa, por companhia, nada de choros desnecessários. A mão na testa não é para acalmar a minha alma. Ela já está ciente que deve mudar. E eu quero também. Dizer adeus, para muitos, ou até logo para outros. E quem sabe posso voltar a escutar as conversas ótimas do vovô e a vovó entregar para mim os bolinhos de chuva. E o meu pai e a minha mãe podem estar esperando por mim. Quero assim. Façam.
- Não existe...
- Não existe médico Eutanasista, ou não existia. Aqui estou, falou ele. Se o senhor quiser, posso providenciar.
- Dentro da lei?
- Ainda não, mas não tem importância. Eu sei como fazer sem levantar suspeitas. Com quem quer conversar antes de ir.
- Pode anotar? Pegou caneta e uma folha de exigências. Nada mais de remédio. Será o definitivo agora. E com data marcada, como uma cesariana, ainda brincou. E sem corte. Vai ficar lindo quando estiver em paz. E não vai poder fazer mais nada nessa vida, a não ser deixar saudades. Ele compreendeu. E foi assim que o primeiro Anestesista e Eutanasista arrumou encrenca na vida. E foi preso. E não compreende como isso é possível acontecer. Quantas mortes na guerra, poucos vão presos e condenados. Inúmeras mortes em acidente de trânsito e na estrada e pagam uma fiança mínima e vão responder o processo em liberdade. Eu, Eutanasista, vou ficar preso em definitivo?
- Não, fique calmo. Essa lei vai passar... algum dia. Enquanto isso, vou providenciar o seu habeas corpus.
- Pois eu quero um Eutanasista se isso acontecer. Foi o último riso dele, antes de sair na rua, com o advogado atrás rindo do último pedido. Atravessou a faixa, branca, da rua, na esquina sem semáforo. Como a lei da Vida manda. E a Morte o ceifou, em definitivo, mandando a cinco metros de altura e dez de distância do local. O motorista, bêbado, vai ser como todos os outros. E, infelizmente, vai tirar da Vida, um ser humano que diziam adorar a Morte. Talvez sim, muito mesmo, só que foi com ela na dor. E quem vai chorar e atender aos outros pacientes que esperavam por ele para ir com bondade, carinho e atenção? Vão ficar na cama, esticado, sem respirar direito e gemendo de dor. Com doses cada vez maiores de tira dor. A famosa e reconhecida como um parágrafo entre a Vida e a Morte. A terrível e solicitada morfina. Mas não é contra a lei? Isso, esse fato de injetar, nas veias, tornando-se dependente até a Morte, de drogas. Afinal, é melhor ser drogado ou eutanasiado? Que digam os médicos, aqueles que se afirmam a favor da paz, não do sofrimento. Eutanásia não é um bicho de sete ou mais cabeças. É a função Morte com bondade e caridade. Medicina e Eutanásia. Qual o problema de se doarem as mãos, se elas existissem, coabitando corretamente. Se baterem quando nasce, podem muito bem, alisar quando morrem. Eutanásia. Eutanasista. Eu assumo. Eu quero. E a lei segue de acordo com a vontade do cidadão. Para isso existem leis que antes proibiam o que hoje é permitido. Façam assim, médicos atuantes e perseverantes. Ajam. Com amor e rigor. Exijam ser o que queiram ser. E defender a sua especialização. Verá que o mundo vai melhorar.
- Vou ser sim, um médico, mas não dos que vocês conhecem. Vou ser o companheiro final, para conseguir dizer adeus com dignidade. Ele, o meu paciente, vai poder escolher a quem desejar muitas felicidades, ou dizer o quanto vai sentir falta e desejar, novamente, essas mesmas felicidades que discursou para outros, sem a devida emoção. Alguns mais, outros menos. Ele se intitula, agora, que vai ser o primeiro médico, autorizado, à eutanásia. Vai ser Eutanasista.
- Isso não existe. Ouviu muito, de muitas pessoas e vai estudar, até o quinto ano. Depois, com amigos advogados, vai propor essa condição, como médico, de acompanhar pacientes terminais. E eles, os seus pacientes, vão definir. E ousou confirmar, dia após dia que seria isso mesmo. O argumento foi de que existem outros profissionais, ginecologista, ortopedista, cardiologista, acupunturista, bem, se for o caso pode relacionar a todos, um por um, sem necessidade. Afinal, para eles todos, sabem de cada característica e o melhor professor para ensinar e orientar. Ele vai ser o primeiro.
- Eutanasista?! Você enlouqueceu, é contra a lei. Vai ser incriminado e poderá ir preso.
- Os mortos da guerra, no trânsito, de brutalidades outras também vão? Se for assim, aceito plenamente. Ele agora estufa o peito, apesar de não querer, em momento algum, escandalizar ou projetar contra a família todos os preconceitos da sociedade. Ainda mais a premente e constante vigilância da associação dos médicos. Isso não pode ser considerado. Lutamos pela Vida, não para ampliar a Morte. E quando a Morte já ceifou a vontade, por considerar terminal algo que não tem mais como a medicina – atual – vislumbrar um mínimo que seja a um paciente com idade avançada e pouco lúcido e encontra nas drogas pesadas o efeito um pouco mais do que um arbusto, uma planta, vegetando. É assim que se consolam a quem diz que quer o bem dessa pessoa totalmente dependente.
- Eu quero, eu quero, ainda consegue balbuciar. Eu tenho o direito de legislar pela minha Vida. Vocês, sociedade, dizem que é obrigatório a cada um cuidar da vida que lhe é dada, pelos pais ou pelo criador eterno. Que aceita a morte, ou sequer, contradiz sobre os seus efeitos. Afinal, ele a criou assim também. É de nosso direito estar de um lado ou outro. Esqueçam a religião e os preconceitos. Estou aqui. Vivo como vegetal a maior parte do tempo. Quero ir embora, chamem os meus filhos e a minha esposa... chamem os meus tios e a minha amante... chamem a todos a quem odiei em vida para pedir perdão... e depois vou embora. Quero assim. E não quero sofrer. Doi tudo em mim, as costas, a cabeça, os pés, e quer saber, estou irritado em ter que explicar que até a alma doe nesse corpo cansado. Quero ir embora. Onde está o médico?
- Não existe médico com essa especialidade.
- Pois deveria, autorizado. Como existe para todas as outras partes do corpo, incluindo alma, psiquiatra, psicólogo, quero todos eles. E um Eutanasista. Não quero sofrer ao morrer. Posso chegar cansado e magoado. Música suave, alguém passando a mão na minha testa, por companhia, nada de choros desnecessários. A mão na testa não é para acalmar a minha alma. Ela já está ciente que deve mudar. E eu quero também. Dizer adeus, para muitos, ou até logo para outros. E quem sabe posso voltar a escutar as conversas ótimas do vovô e a vovó entregar para mim os bolinhos de chuva. E o meu pai e a minha mãe podem estar esperando por mim. Quero assim. Façam.
- Não existe...
- Não existe médico Eutanasista, ou não existia. Aqui estou, falou ele. Se o senhor quiser, posso providenciar.
- Dentro da lei?
- Ainda não, mas não tem importância. Eu sei como fazer sem levantar suspeitas. Com quem quer conversar antes de ir.
- Pode anotar? Pegou caneta e uma folha de exigências. Nada mais de remédio. Será o definitivo agora. E com data marcada, como uma cesariana, ainda brincou. E sem corte. Vai ficar lindo quando estiver em paz. E não vai poder fazer mais nada nessa vida, a não ser deixar saudades. Ele compreendeu. E foi assim que o primeiro Anestesista e Eutanasista arrumou encrenca na vida. E foi preso. E não compreende como isso é possível acontecer. Quantas mortes na guerra, poucos vão presos e condenados. Inúmeras mortes em acidente de trânsito e na estrada e pagam uma fiança mínima e vão responder o processo em liberdade. Eu, Eutanasista, vou ficar preso em definitivo?
- Não, fique calmo. Essa lei vai passar... algum dia. Enquanto isso, vou providenciar o seu habeas corpus.
- Pois eu quero um Eutanasista se isso acontecer. Foi o último riso dele, antes de sair na rua, com o advogado atrás rindo do último pedido. Atravessou a faixa, branca, da rua, na esquina sem semáforo. Como a lei da Vida manda. E a Morte o ceifou, em definitivo, mandando a cinco metros de altura e dez de distância do local. O motorista, bêbado, vai ser como todos os outros. E, infelizmente, vai tirar da Vida, um ser humano que diziam adorar a Morte. Talvez sim, muito mesmo, só que foi com ela na dor. E quem vai chorar e atender aos outros pacientes que esperavam por ele para ir com bondade, carinho e atenção? Vão ficar na cama, esticado, sem respirar direito e gemendo de dor. Com doses cada vez maiores de tira dor. A famosa e reconhecida como um parágrafo entre a Vida e a Morte. A terrível e solicitada morfina. Mas não é contra a lei? Isso, esse fato de injetar, nas veias, tornando-se dependente até a Morte, de drogas. Afinal, é melhor ser drogado ou eutanasiado? Que digam os médicos, aqueles que se afirmam a favor da paz, não do sofrimento. Eutanásia não é um bicho de sete ou mais cabeças. É a função Morte com bondade e caridade. Medicina e Eutanásia. Qual o problema de se doarem as mãos, se elas existissem, coabitando corretamente. Se baterem quando nasce, podem muito bem, alisar quando morrem. Eutanásia. Eutanasista. Eu assumo. Eu quero. E a lei segue de acordo com a vontade do cidadão. Para isso existem leis que antes proibiam o que hoje é permitido. Façam assim, médicos atuantes e perseverantes. Ajam. Com amor e rigor. Exijam ser o que queiram ser. E defender a sua especialização. Verá que o mundo vai melhorar.