O senhor da cidade

Quero saber como vão os desagrados dias dos mendigos da cidade. Sempre batendo pernas em lugares diversos. Lugares com merda na cidade de merda. Juntando os trapos e os pedaços de pão dormido junto com a garrafa de cana. Senhor, onde estão os modos de vida? Criaram leis nas calçadas. Deram uma ratada no último asfaltamento e a cidade tem buracos como uma cama de bordel. É bom terem seus capacetes para a proteção da chuva de pedra que pode cair em nossas cabeças a qualquer momento.

Há roubo de tudo senhor. De mulher se rouba tudo por aqui. Leva-se bolsa, se leva dinheiro. Mas levam como principal o corpo. Dão aquela velha trepada à força e ainda entregam os pedaços para o conjugue dos matos que, aliás, são ótimos quartos para a pesquisa sexual.

Não quero precipitar confusão senhor, mas acontece que as crianças estão abandonadas. Educação parece extinção e meninas já estão soltando por ai aquilo que antigamente se soltava com o casamento. Algumas estão oferecendo para ganhar dinheiro e ajudar a família. Outras podem até dar porque gostem, mas do jeito que está senhor, a cidade vai se complicando pelos raiares do dia.

Senhor, o dinheiro para as mudanças está sendo desviado. Tem político metendo a mão e usando até para comprar raparigas. Senhor, presta atenção. Olhe o descaso. Olha a falta de vergonha e olhe no espelho sua cara de destrambelhado. Não quero armar confusão senhor, sou trabalhador, pago meus impostos, até mesmo sabendo que esse dinheiro meu vai praticamente todinho para a sua cambada. Nossa, me desculpe pelo cambada. Não, por favor, não mande me prender. Tenho um filho por ai me esperando. Está sem escola. É, é meio complicado achar vagas com racismo de cor. O bichinho ta meio doente, não, ele não tem plano de saúde, é caro, é meio injusto por aqui. Não, hospital está sem leito, há muito tempo está assim, senhor. Acho que meu filho pode morrer. Não, senhor, não me mande se foder. Respeito está longe não é, não há motivos para isso senhor. Há tudo bem senhor. Estou fodido de novo, não vai fazer diferença.

Puta que pariu o preço da cerveja está mais alto, meu livro está terminando e meu filho está morto.

Lucas Alves de Araújo
Enviado por Lucas Alves de Araújo em 20/03/2012
Código do texto: T3565339
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