O PRIMEIRO VOO
Condenado ao silêncio por longos anos, os filhos da violência no lar são muitas vezes negligenciados, esquecidos, ignorados por quem poderia lhes oferecer o escape, solução, e a liberdade tão almejada.
Estão por aí, em qualquer recanto de uma casa, escondidos, forçados, mutilados, acorrentados, aterrorizados por quem tem o dever de cuidar, amar; ser presente... Mas não é assim que acontece. A história tem seu desenrolar de forma cruel, e esses filhos permanecerão calados até quando? Se escaparem, perpetuarão o ciclo? Ou serão mais um entre a multidão de atormentados mentais, cujo passado não conseguem esquecer ou se livrar?
Segundo pesquisas, pessoas que sofreram abusos na infância ou na adolescência não conseguem por si só vencer os problemas que surgem no correr dos anos. Todos eles apresentam algum tipo de transtorno, dificuldade de socialização, etc. Muitos, em algum momento, expõem suas perturbações, porém não são compreendidos. Outros preferem se isolar, vivendo com esses fantasmas. Até quanto poderão suportar? Outros optam pelo caminho ‘mais fácil’, através das drogas lícitas e ilícitas fogem de vozes e vultos que lhes perseguem dia e noite. Poucos conseguem superar seus traumas, descobrindo que não são ou nunca foram culpados de nada; foram vítimas, podendo criar uma nova história de vida, aprendendo com as tormentas, desafiando suas dores, estabelecendo metas e alcançando novos alvos.
Felizes são os que conseguem ouvidos para lhes ouvirem. Braços que lhes acolham; olhos que lhes vejam; corações que lhes compreendam. Quando isso acontece, um milagre da vida acontece; as asas, embora atrofiadas, abrem-se para a liberdade. O primeiro voo acontece.